[DISCO: marcante] “Blue Lines” Massive Attack
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Se existe trip-hop na actualidade é por causa deste disco. De facto, a “crew” dos Massive Attack (MA) - que emerge de um colectivo apelidado de “Wild Buch” – é composta por alguns génios urbanos (Nicolette, Martina, Tricky, Horace Andy, 3D, Del Naja, Shara Nelson e Mushroom), e consegue marcar Bristol no mapa. Dessa sopa de influências (nos “sound systems” no final dos oitentas) sai “Blue Lines” em 1992.
Numa altura que “groove” e “cool” eram termos reservados ao hip-hop e funk, os MA apropriam-se destes termos, reescrevem-nos, cozinham-nos e condimentam-nos com poesia urbana. As misturas de géneros enriquecem este disco: hip-hop, funk, soul (“safe from harm”), dub (“five man army”), reggae (“one love”) e uma pitada de rap mais agressivo.
Acredito que este trabalho debutante dos MA tem como razões de sucesso o facto de ter dois objectivos até então não miscenizáveis: “Blue Lines” é claramente “club-friendly”, mas cumpre com glória como banda sonora de uma vida urbana. Além disso, a própria mestria do trabalho não deixa créditos por mãos alheias: “Unfinished Sympathy” foi “single” da década no Melody Maker.
A abertura destes 45 minutos fazem-se com Shara Nelson em “Safe From Arm”, “o” single dos MA onde o soul nos enche as medidas, mas mostra-nos um som escuro, mas fluido. Em “One Love”, um hip-hop abstracto ilustrado com linhas de piano e com o “scrach” de Mushroom a seguir a voz de Andy. “Be Thankful For What You’ve Got” alicerçado em Tony Bryan (mais uma colaboração dos MA) deixa sentir o groove aninhado num funk muito positivo. “Five Man Army” é o dub que brota do colectivo: Tricky e Dady G degladiam-se entre rimas. Chegamos ao par de ouro neste disco: “Unfinished Sympathy” e “Daydreaming”. Enquanto a segunda faz a afirmação da banda enquanto grupo que bebendo melodias aos anos oitenta e nos reconforta como uma chávena de uma bebida quente num dia chuvoso, “Unfinished Sympathy”, o clássico dos MA é mais cortante e angustiante; Mostra a voz de Shara Nelson e a forma como esta dá ao seu instrumento vocal um dos melhores poemas do disco. “Hymn Of The Big Wheel” produz um efeito opiáceo em quem ouve: um sedativo em downtempo com Horace Andy a transmitir a sabedoria de um velho (quase contra-natura num disco tão urbano) e a paz de um mundo explicado tão facilmente que adormece entre cigarras.
“Blue Lines” marcou uma geração de apreciadores de música. Quem cresceu a ouvir música nos noventas, não esquece pelo menos “Unfinished Sympathy” ou “Safe From Arm” que representam um albúm seminal na compreensão da moderna música urbana que nos mostra um futuro rico (basta atentar na carreira dos MA), mas não esquece as suas origens.
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