[discos mais marcantes] Três selecções
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Antes de mais vou deixar uma pequena nota introdutória que servirá, sobretudo, para antecipadamente responder a algumas questões que se poderão levantar quanto à disparidade na selecção que fiz sobre os discos mais marcantes da minha vida. Site oficial dos Ratos de Porão ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ Oxiplegatz – Sidereal Journey [1998, Season of Mist] ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ Faith and the Muse – Annwyn, Beneath the Waves [1996, Tess Records] Não foi fácil para mim seleccionar um disco que se adequasse às minhas preferências actuais. No entanto, após um momento de concentração, restaram-me poucas dúvidas em seleccionar este.
Será fácil perceber que é impossível resumir as preferências musicais de alguém através de apenas três discos ou bandas. Os meus gostos abrangem diversos estilos que, por acaso, até tiveram a minha preferência quase por ordem cronológica. É por essa ordem também que me vou referir brevemente às minhas três escolhas.
Ratos de Porão – RDP ao Vivo [1992, Estúdios Eldorado]
Os Ratos de Porão são brasileiros e surgiram em 1981 (!!!).
Estávamos em 1993 quando este disco violentíssimo chegou às minhas mãos. Não conhecia Ratos de Porão e foi preciso ouvir este disco mais de dez vezes para começar a gostar. Os RDP, na altura, representavam a mistura trash e punk mais agressiva que jamais conhecera (e conheci), e foi neste álbum ao vivo que me revi na altura. Vários minutos de pancadaria bárbara que, a princípio parecia não ter nexo, me mostraram no entanto que este é o disco que em grande parte terá conferido à banda o carisma que ainda hoje possui. É neste disco ao vivo que ficaram demarcados aqueles que viriam a ser os clássicos dos clássicos dos RDP. Quase que me atrevo a dizer, até, que todas as músicas que entraram nesta edição se tornaram clássicos da banda. São mais de 27 temas (porque existem faixas escondidas) de crítica social, denúncias, gozação e revolta, em que se incluem memoráveis versões de músicas de bandas como os “Olho Seco” e “Extreme Noise Terror”.
Muito provavelmente no auge da sua forma, os Ratos tiveram ainda a ajuda de o som estar mesmo muito potente (embora julgue que não tenham rebentado nenhuns PA’s neste show, como aconteceu num outro bem mais recente). Aliando isso às frases peculiares que o seu líder João “Gordo” vai dizendo entre músicas, bem como a participação entusiasta do público que estava presente, estavam criadas as condições para surgir o disco que ainda hoje vou buscar quando tenho vontade de reviver esses tempos. Cada vez que o faço arrepio-me.
Numa altura em que o metal mais pesado já me ia entediando, por escassearem aqueles que se destacassem com algo realmente novo, eis que adquiro um álbum que mudaria a minha orientação musical. Oxiplegatz é um projecto a solo do sueco Alf Svensson, que já participara em bandas punk e metal (como os conhecidos At The Gates), bastante arrojado. A exemplo disso surge este álbum com cerca de 40 minutos em que é “abolido” o conceito de “músicas”, visto que se apresenta com uma só música ou peça (apesar disso o disco está dividido em 33 faixas com o único propósito de facilitar ao ouvinte a seleccionar as suas partes favoritas). Na realidade esta opção faz todo o sentido quando nos apercebemos que este disco é uma história só, sobre uma raça alienígena que se lança no universo desconhecido à procura de um novo planeta, visto que o seu tem os dias contados.
Num álbum em que se notam nitidamente, aqui e ali, as influências de punk e black metal (e mesmo tendo em conta que o autor se tentou abster, mais do que nunca, de qualquer influência), foi aqui que encontrei o som que a minha vizinha de baixo apelidou de “música do espaço”. É neste disco que algumas nuances típicas do black metal se transformaram, pelo menos para mim, num som bem mais perto do gótico. Não estará certamente alheia a isso a participação especial de Sara Svensson, com registos vocais notáveis. De referir o interesse que existe em reparar que as sonoridades mais pesadas vão surgindo nas situações da história de maior intensidade e stress, intercalando com momentos de introspecção e melancólicos.
É um álbum incrível, para muitos uma obra de arte, que de vez em quando me vejo “obrigado” a ir buscar, porque é daqueles discos que não cansa nem enjoa. Antes pelo contrário.
Talvez por ter elevado a fasquia tão alta, não foi editado mais nenhum registo de Oxiplegatz desde então.
Oxiplegatz na internet
Era capaz de ficar várias linhas a enaltecer esta banda americana, da qual se destaca claramente (na minha opinião) este álbum. Muitíssimo equilibrado, será o disco que melhor descreve a banda. Com a influência demarcadíssima de bandas góticas de culto, os Faith and the Muse apresentam um disco recheado de ambiente, romantismo, fúria e solenidade. Com um som extraordinário para testar sistemas de som e estruturas anti-sísmicas (eh eh eh), encontrei neste disco de tudo um pouco daquilo que vemos nos outros seus outros registos. Tanto somos transportados para meandros do século XVIII, como depois para sábias terras pagãs, e de seguida para um qualquer clube noctívago e negro de Londres. Desde canções rock intensas, até à subtileza soberba de outros temas (ora com a voz motivante de Monica Richards, ora com o registo sombrio de William Faith), sempre suportado com letras fora do comum, somos a pouco e pouco arrastados até à negridão que transportam. A diversidade que o álbum carrega torna-o um dos mais poderosos e bonitos que já alguma vez ouvi e mesmo não possuindo distintamente influências das bandas onde Richards (Strange Boutique) e Faith (Christian Death, Shadow Project, Mephisto Walz and Sex Gang Children) participaram anteriormente, estou certo que terá sido um dos melhores discos que fizeram. É um dos álbuns que mais me marcou e é daqueles em que não se consegue seleccionar esta ou aquela faixa. Vale mesmo como um todo.
Site oficial dos Faith and The Muse