[DISCO] Tricky "Knowle West Boy"
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Tricky tem um problema: Qualquer dos seus discos são comparados com “Maxinquaye”; Se são diferentes, se seguem o mesmo caminho, se rompem com a estética fundada por aquele disco, etc. Talvez por isso, Tricky afirma (na entrevista que deu ao Expresso no Sábado passado) que cada um dos seus oito albúns vale tanto como outro talvez para lembrar que os desejos dos fans têm menos importância que as vontades de um criador. Minimizar a importância de “Maxinquaye” até podia ser um sinal de humildade, mas vindo do Tricky Kid tenho as minhas dúvidas.
Se considerarmos “Maxinquaye” como a obra-prima de Tricky (eu considero) então “Knowle West Boy” volta a mostrar o Tricky Kid em forma, trazendo o que de bom já fez e incorporando o que aprendeu nesta viagem (a título de curiosidade Knowle West é uma zona de Bristol, local aliás, onde Adrian Thaws nasceu). Talvez por isso “Knowle West Boy” faz lembrar os trabalhos antigos, mas não fica por aí. Esta é a razão pela qual defendo que este disco não cheira a mofo.
As numerosas colaborações dão alguma cor à palete de preto e cinzentos típica de Tricky e influem na variedade de géneros que Adrian Thaws (agora com 40 anos) espalhou em “Knowle West Boy”. Comecemos pelo princípio com “Puppy Boy” com um toquezinho de pop adocicada (juro que quase oiço a Christina Aguilera) e “C'mon Baby” roqueiro (menos que o manifesto punk anti star-system do primeiro single “Council Estate”). O piscar de olhos (sem grande sucesso) a “Slow” de Kylie Minogue onde a guitarra rasga mais do que seduz. “Baligaga” mantém o discurso rasfari/dancehall que já conheciamos em “Evolution Revolution Love” e o trip-hop, aquele que muitos já enterraram e outros tantos mantêm a botijas de oxigénio surge – em explendor – lento, arrastado, sujo e neurótico em “Past Mistake” e mais colorido ainda que com tons esbatidos na deliciosa “Joseph”. “Veronika”, ao contrário de “Joseph”, é apenas voz e batida dispensando mais elementos melódicos.
O cliché: Tricky está em forma porque nos lembra outros tempos dos quais temos saudades. Por isso, todos aqueles que tinham perdido a fé podem voltar ao lugar de culto porque o "puto" lançou um dos discos do ano.
Tricky - "Council Estate"