[Concerto] "Siouxsie: Dream Show"
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É complicado explicar o que leva uma pessoa a fazer 2300 kilómetros para ir ver um concerto, ou a importância que o mesmo terá para quem faz tal viagem. Por isso, não é só de música que aqui se escreve. É de paixão por ela, num sentido que se quer dúbio.
Quinze de Outubro, um fim de tarde londrino e a vista que o Royal Festival Hall oferece sobre o Tamisa. Sala cheia e impaciente por uma noite que se sabia especial. Este seria um de dois concertos em que Siouxsie interpretaria temas de toda a sua carrreira, quer como membro dos Siouxsie and The Banshees, quer como membro dos The Creatures. Não fosse já esta uma razão suficiente para tornar o concerto especial, ela estaria ainda acompanhada por Budgie (baterista), e por: (espero não esquecer ninguém): Millennia Ensemble (pequenas secções de cordas e metais), Leonard Eto (percussionista, tambores japoneses Taiko), coro feminino (duas gémeas, sério), um guitarrista/baixista, um teclista, um percussionista e um ocasional multi-intrumentista. Portanto mais de vinte pessoas em palco, com um propósito: tornar a noite verdadeiramente especial.
Músicos chegam aos poucos a um palco por iluminar. Primeiros sons reconhecíveis do último “Hái!” dos Creatures, permitindo um longo diálogo entre tambores japoneses e bateria, diálogo esse que encheu a sala por completo. E estava eu a constatar a qualidade acústica da mesma, quando por fim chega a mais desejada.
Um longo kimono acetinado, preto sobre branco. Cabelo adornado com penas vermelhas, que davam um pouco de cor à sua figura. Uma indumentária a condizer, não só com os sons mais orientais do de “Hái”, mas também com a sua elegância e sensualidade.
Os temas vão desfilando, primeiro os novos Creatures, depois os mais velhinhos Banshees. A sensação, que sempre ficaria, é que por cada um deles, dez faltariam sempre, tal é a extensão e qualidade da carreira em questão. Por isso, falar deste concerto, é falar de uma imensa satisfação por ouvir temas como “Face to Face”, ou “Obssession”, ou o surpreendente “Right Now” mas ao mesmo tempo da ausência dos outros respectivos trinta.
Para minha surpresa, soaram-me melhor as canções dos Creatures que as restantes. De facto, a percussão reforçada, puxou estes temas para opulências que as canções mais viscerais dos Banshees não o conseguiriam fazer. Exemplo claro disto, resultaria da comparação entre um “Dear Prudence” e um “Prettiest Thing”. Enquanto a primeira soa menos bem sem os ácidos característicos, já a segunda sai melhorada pela companhia sinfónica. Talvez seja eu, mas embora gostasse de ouvir o The Thorn na íntegra, ou o Fireworks, ou o Dazzle, ou tantos outros com toda aquela gente a tocar... a verdade é que os Banshees sempre foram algo de mais imediato e primário, para susterem tanto requinte em pormenores orquestrais.
Por isso quando se acaba o concerto com o “Spellbound”, admito que o “Extermination Angel” me pareceria melhor. Mas isso já são pormenores de quem se apaixonou pela música dela há muito. Coisas de quem se apaixona pela música...