[concerto: crónica a dois] Depeche Mode em Lisboa
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» A opinião de Kid Cavaquinho:
O que eu não gostei:
Merchandising a preços exorbitantes.
Gestão deficiente a nível de recursos humanos nos bares.
O que eu estranhei:
Betos a cantar em uníssono com industriais/góticos.
A actuação dos The Bravery, sobretudo focalizada no pullover aos losangos do vocalista.
O que eu não estranhei:
O conservadorismo no alinhamento.
O que eu gostei:
Da qualidade do som acima do que seria de esperar no Atlântico.
O conjunto de luzes e efeitos média que nivelou-se pela a mesma batuta da prestação ao vivo dos artistas.
A voz do Dave Gahan que é de facto sui generis que apresenta um timbre muito ajustado ao tipo de composição da electrónica híbrida, da qual os Depeche Mode se tornaram mestres.
Foi com olhos arregalados e com as orelhas no ar que o povo recebeu os temas de abertura "A Pain That I'm Used To" e "John the Revelator", obras do recente álbum e do grupo "Playing the Angel".
São temas maiores do disco, a par de "Precious", o primeiro single e promotor da tour que decorre e que como seria evidente preencheram o início do espectáculo.
Mas verdadeiramente as hostes começaram quando se ouvi os primórdios sirénios de "Question of Time" e aí sim o nervosismo do público comungou-se e deixou-se exorcizar pelo um electrizante Dave Gahan e pela frágil figura andrógina de Martin Gore.
Creio que os melhores momentos passaram por: "Walking In My Shoes", "Personal Jesus" e pelo o final com um "Enjoy the Silence" arrepiante, tal a ordem de comensalismo entre o palco e a plateia.
Também deixou marcas inolvidáveis, o início do 1º encore com Gore supliciando notavelmente "Shake the Disease" apenas com a companhia do piano, e ainda os incontornáveis hits "I Just Can't Get Enough", "Everything Counts" com este último a levar a melhor, pelos menos na receptividade emotiva.
No 2º encore nada posso dizer pois, levei fiquei a ver tudo azul resultando de uma flashada que me cegou e que acompanhou portanto o meu desgosto de não ter sido servido com "Master and Servant", nem com o "People are People" nem com as articulações maradas do Dave com o "New Life"!
Pagava por mais 2 horas de concerto de Depeche Mode, mas não o farei em Avalarde.
Considero que o som depecheano não se adequa a espaços muitos amplos, inclusive o próprio Pavilhão Atlântico, onde foi visível uma certa frustração por parte do público pela negação espacial da expressão do corpo à apelativa música dançante dos Depeche Mode.
» A opinião de Escrito:
Já muito se escreveu sobre o tão esperado regresso dos Depeche Mode a Portugal, desta feita sob um "Touring the Angel". Um privilégio.
Não importa já sublinhar a expectativa enorme que se vivia à volta deste evento (que vinha desde há muitos meses - desde Junho, por exemplo, que foi quando comprei o bilhete), mas sim a autêntica celebração que se viveu no Atlântico.
Através de uma playlist muito equilibrada entre o que há de novo e os grandes clássicos, a minha maior surpresa foi para o público presente (17 mil), que mostrou não só ter recebido muito bem o recente "Playing the Angel", como também não ter esquecido algumas das músicas mais marcantes de minha juventude.
Excelente a recepção e ambiente para as novidades "A Pain that I'm Used To", "John The Revelator", "Precious", "Suffer Well", “The Sinner In Me” e "Damaged People", apresentadas num palco futurista e que, por si só, constitui uma grande fatia do espectáculo (o Sr. Corbijn é o maior).
Foi muito muito bom perceber que a celebração não tinha apenas sentido único, com bom empatia criada pela energia (não acaba) do vocalista Dave Gahan e entusiasmo e sede do público presente. E deve ter sido por isso que o delírio se instalou com "Personal Jesus", "World In My Eyes", "Policy Of Truth", só para citar algumas. No entanto, a loucura absoluta e total e, para mim, os pontos altos do concerto, apareceram com "Question Of Time", "Behind The Wheel", "Walking In My Shoes" e "I Feel You". Indescritível.
Por fim, seguiram-se os encores lógicos com o sôfrego “Shake The Disease”, "Just Can't Get Enough", "Everything Counts" e "Never Let Me Down" (com o famoso e lindo mar de braços).
Para acabar, nada como “as pazes” de “Goodnight Lovers”.
Não terá sido, nem de perto, um 101, mas que foi uma celebração negra inesquecível... disso ninguém pode duvidar.