[DISCO] Boxcutter "Oneiric"
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Ainda mal se fala de dubstep e das suas características inerentes enquanto estilo musical e já existe alguém a rasgar essas limitações. Na verdade, se a actividade da editora Planet-Mu tem como imagem de marca algum experimentalismo, o certo é que Mike Paradinas encontrou aqui o talento inato do norte-irlandês Barry Lynn (produtor e guitarrista) que retirou os holofotes da Hyperdub depois da pedrada no charco que foi o álbum homónimo de Burial, direccionando-os para este “Oneiric”, o seu disco de estreia.
As diferenças entre estes dois discos permitem afirmar que existe uma diversidade, uma evolução, no género. O álbum debutante de Boxcutter incorpora - além do 2-Step, jungle e do dub - rendilhados electrónicos e frases sonoras provenientes da família Roland. Assim, junta-se a IDM, o jungle e drum n’ bass dos anos 90 e alguns farrapos jazzísticos à base já conhecida. De facto, parece que o Aphex Twin de meados dos anos 90 povoa este trabalho. Exemplos desse trabalho (quase de ourivesaria, o que só valoriza “Oneiric”) são ouvidos em “Tauhid”, faixa inicial onde os sons envoltos numa névoa são cadenciados por gordas linhas de baixos, em “Brood”, uma faixa farta de camadas sonoras negras e densas, em “Bad You Do” onde o dub se acomoda entre um jungle apontado para as pistas de dança que nos lembra alguns trabalhos de artistas de drum n‘ bass da década passada ou em “Hyloz” onde a uma ambiência com instrumentos de sopro se juntam dramáticos lençóis de longos sons sintetizados.
Aparte dessa perspectiva mais ligada a uma estrutura rítmica mais forte, “Oneiric”, tem aqui e ali, elementos claramente ambientais de uma electrónica menos club friendly como o exercício melodioso de “Chlorophyll”, a aproximação claramente dub de “Gave Dub” que se mistura com uma soul mínima ou a faixa “Mossy”, que respira harmonia e leveza num diálogo de puro entendimento entre guitarra, sopros de inspiração jazz e um xilofone redondo e calmo.
Este disco concentra em si, uma visita ao passado, através das influências assumidas ao longo destes 65 minutos, como assenta raízes no presente pela ponte com a IDM e o dubstep. Esta duplicidade faz de Mike Paradinas um justo vencedor desta aposta e faz-nos esperar o próximo disco de Barry Lynn com urgência.
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