[OPINIÃO] O papel do vinil na era digital
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Se por um lado alguns se preocupam com comodidade e lucro, por outro há quem ainda cultive valores calcados na coletividade. A questão ainda causa polêmica e acende discussões passionais através de comunidades virtuais em todo mundo. Tudo indica que o papel do vinil na era digital varia de acordo com a cultura de cada cena e sua morte definitiva está longe de ser anunciada.
Na opinião de Carl Loben, um dos editores da DJ Mag britânica e responsável pelo selo Westway, os CDJs e as lojas virtuais de download pago provocaram uma queda considerável na venda de discos. “Muitos DJs usam CDs, Ableton, Serato ou Final Scratch porque é mais fácil de carregar. Em longas viagens, eles preferem escolher entre 100 faixas do que 100 discos. Mas o vinil não vai morrer, o mercado mudou”, comenta.
Segundo o editor, não é possível culpar as pessoas pela situação atual. “Amigos sempre trocaram música entre si e a internet tornou isso mais amplo. É mais uma questão dos CDJs do que da rede. Muitos DJs não tocam mais vinil e a maioria deles deixou de comprar discos”, diz. Para quem busca retorno de investimento, o formato digital é uma alternativa. “O download pago não rende muito mas os custos são mínimos então é basicamente lucro. Você não precisa prensar. Hoje é quase impossível viver da venda de discos. Os selos precisam ser criativos, vender downloads, licenciar faixas para TV, cinema, videogame”, completa Carl.
Já Martin Clark, colunista do site Pitchfork e curador da coletânea Roots Of Dubstep (Tempa), afirma que ainda há espaço para o vinil na cena. “É um mercado que se sustenta através da cultura do vinil, mantida pelos DJs através do corte de dubplates e pelos fãs colecionadores de discos”, explica. “Os álbuns em vinil são raros porque o investimento é muito alto para prensar um multipack ou soam ruins com várias faixas prensadas no mesmo lado do disco. Os singles em CD nunca pegaram, porque poucos se interessam. Então se você quiser comprar Dubstep, o vinil domina”, afirma.
O Trasition, estúdio londrino que corta dubplates em acetato, aparentemente vive de relacionamento. “O Dubstep começou como uma cena muito pequena, estamos falando de literalmente meia dúzia de DJs que viviam no sul de Londres. O Transition fica próximo da região. Seu principal engenheiro de corte, o Jason, estreitou o contato com eles, dando dicas para melhorar a qualidade das produções. Ele sabe como cortar graves pesados em acetato e masteriza as faixas também”, explica Martin.
Por que alguns DJs preferem cortar dubplates ao invés de usar CDs ou ferramentas digitais? “Primeiro porque é mais fácil usar vinil, tocar CDs é muito embaraçoso. Segundo porque o som é mais bacana também, dubplates têm o som mais quente e fazem CDs soarem ruins em comparação. Por último, há um efeito subliminar na seleção. Quando você paga 40 libras por duas faixas, você tem que gostar muito delas. CDs são descartáveis, o que significa que você pode tocar coisas que não conhece bem e quem paga é o ouvinte”, opina.
As razões para prensar vinil hoje são claras. “Enquanto houver procura, vai valer a pena”, diz Carl. Quem decide são as pessoas e o mercado. “Alguns DJs amam vinil e provavelmente o disco sempre vai existir”, conclui Carl.
Publicado no Tranquera.