[DISCO] DJ Shadow "Outsider"
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Depois de “Endtroducing” DJ Shadow era rei e senhor do hip-hop abstracto, trabalho que abriu novos caminhos no hip-hop que não se compadecem com o blimp-blimp do “Pimp My Ride” da MTV. Eis pois que DJ Shadow aparece este ano com “Outsider”, quatro anos após o seu último trabalho de originais, “Private Press”.
“Outsider” é, logo pelo nome, paradoxal. De facto, Este disco está fora da linha quase ideológica que Shadow nos mostrou visto que abraça o R&B e o hip-hop mais comercial. Por outro lado, as comuns críticas políticas à administração americana também encontram eco neste disco nas faixas “Seein’ Thangs” e “Broken Levee Blues”, talvez pela participação de muitos rappers convidados e interventivos q.b. As múltiplas direcções sonoras deste “Outsider”, abrangendo o hip-hop, R&B, um funk e um soul bem Motown, bem como as intervenções rock e experimentalistas, deixam perdido quem segue com atenção este disco durante os seus quase 70 minutos. E isto acontece porque os bons e os maus exemplos deste album estão salteados: “Outsider Intro” parece prometedor, “The Tiger” (com a participação de Sérgio Pizzorno e Christopher Karlof) propõe-nos uma melodia midtempo, hipnoticamente crescente entre percussões e gemidos de guitarras eléctricas, “Artifact” um instrumental com os 3 minutos mais rápidos e “a abrir” do disco, “Triplicate/Something Happened that Day” tema ambiental e cinéfilo e, numa perspectiva claramente comercial, temos “This Time (I'm Gonna Try it My Way)” que evoca uma Motown que, não cabendo na nossa ideia de DJ Shadow, até se mostra interessante. Por outro lado, faixas como “3 Freaks (com Keak Da Sneak e Turf Talk)”, “Turf Dancing (com The Federation & Animaniaks)” e “Seein Thangs (com David Banner)” exploram o pior que existe no hip-hop actualmente e que só poderão agradar aos admiradores do género, mas que porá a quilómetros os fans de Shadow que o acompanham desde “Endtroducing”.
Talvez a justificar a mudança de rumo, Josh Davis afirmou que neste intervalo entre “Private Press” e “Outsider” passaram-se situações traumáticas na sua vida e que, com este disco (“o melhor disco que já fiz”) será muito mais difícil alguém imitar o seu som. Será verdade, mas os fans mais antigos não deixarão de o penalizar por este arrojo de ir beber ao hip-hop de S. Francisco a sua influência para este último trabalho como outros admiradores tomarão contacto com a discografia deste artista. Apesar da desilusão (do ano?), Shadow avisa logo na faixa introdutória que assume o que fez e o que poderá vir a fazer: “In a twilight of a time, there emerges a need for man to comprehend his own bitter fate. Finally resigned to the inevitable beyond, he searches the ages, desperate for stories of insurance, redemption and hope (...) but there is one tale that has yet been told, the story of «The Outsider».”
[DJ SHADOW - The Outsider, 1703468 Island, 2006]
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