[DISCO] Boards of Canada "The Campfire Headfase"
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O último disco dos Boards of Canada (BoC), “The Campfire Headfase”, foi lançado em Outubro passado pela WARP sob grande expectativa dos admiradores do duo composto por Mike Sandison e Marcus Eoin. Estes apenas recentemente se declararam irmãos, como já desconfiava a horda de fans da banda; Estranho este pormenor do par visto que o recato, a reserva e o anti-estrelato (comum em artistas de música electrónica ao contrário dos criadores de música rock e pop que (sobre)vivem do “star-system”) sempre foram apanágio do duo escocês. Talvez pela busca incessante e por vezes quase arqueológica de trabalhos e notícias suas realizados pelos admiradores. Cansados desta “aura” os BoC “quiseram” cair nas “bocas do povo”: as entrevistas em revistas multiplicaram-se (inclusive com fotos do duo) e as notícias tão bem comercialmente geridas pela WARP espalharam-se nos fóruns de discussão pela Internet.
“The Campfire Headfase” apresenta-se por fora como um legítimo seguidor dos trabalhos anteriores “Geogaddi” e “Music as the Right to Children” (mais deste), mas em relação ao conteúdo melódico, nem por isso. Especulava-se uma grande viragem na sonoridade BoC, cujos BoC são os próprios (e únicos) autores. Grande viragem não será, mas antes q.b. Alguns dos elementos tradicionais e estruturantes dos Boards of Canada mantêm-se e outros alteram-se: a ausência de vozes infantis e/ou mensagens faladas faz-se notar. No entanto, o “low-fi” característico permanece fortalecido pela adição de instrumentos acústicos como a viola adulterada e suja, efeito da preferência de Mike Sandison e Marcus Eoin. Deste modo, as faixas com viola são condimentadas com lençóis de sintetizadores rugosos e vacilantes (“Chromakey Dreamcoat”, “Satellite Anthem Icarus” e “Hey Saturday Sun” são exemplos); Nesta altura lembramo-nos de “Music as the Right to Children” em detrimento de “Geogaddi” pela aproximação mais ingénua que dura. Por outro lado, a leitura de “Dayvan Cowboy” sugere-nos algo mais: a inclusão de uma guitarra eléctrica (instrumento “maldito” na música electrónica que vem, cada vez mais, ocupando espaço nesta) com efeitos ecosféricos confere a espacialidade própria dos BoC. Nesta faixa os BoC foram longe: ouvem-se duas e não uma música: A componente rítmica rica, texturada e cortada e colada complementa a harmonia do sintetizador, mas rouba-lhe protagonismo devido à forma sumarenta que impõe à música. Sem dúvida, um dos pontos altos de disco que corrobora a informação de Mark quando diz que o trabalho sobre os sons, individuais e em conjunto, foi intenso: “enquanto outros andam às voltas numa música durante quatro dias, nós gastamos o mesmo tempo a aperfeiçoar um som específico como um som de tarola”.
Ainda (e sempre?) agarrados a uma estética sonora vintage, há muito apegada ao universo multimédia do final dos anos 70 e 80 (isto é, TV e rádio) os BoC mantêm, nesse esquema sonoro, a sua base de onde evoluem; Aliás a crítica acusa-os de se rarefazerem o suficiente para se perguntar se os fans manterão a quase religiosidade que os caracteriza. Durma a inteligentsia literária-musical descansada que as raízes se mantêm e que os Boards os Canada não fazem audio-books bíblicos: têm, como todos os artistas, a liberdade de se mover no sentido que melhor entenderem, mas a ITT Ideal Color conserva ainda os documentários do National Filmboard of Canada.
Para quem não apreciou os trabalhos anteriores dos Boards of Canada, “The Campfire Headfase” será apenas um excelente disco de IDM. Não tão grandioso como “Music...”, pelo menos na interpretação do consumidor, mas suficiente para ter este disco na discografia de um amante de música electrónica.
[Boards of Canada, “The Campfire Headfase” 2005, WARP – warpcd123]