[INFO]
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Ursula Rucker vem a Portugal nos dias 16, 17 e 18 de Março. Em Lisboa actuará nos dois primeiros dias no Lux e TBA, respectivamente e no Porto estará no Hard Club no dia 18. Quem estiver interessado em conhecer melhor o seu último disco, "Ma'at Mama" pode descarregar as letras aqui e ouvi-lo na íntegra no seu site oficial.
MC Hammer
Pára tudo! O MC Hammer tem um blogue.
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
[INFO] Club journeys
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sábado, fevereiro 18, 2006
[DISCO] Coldcut "Sound Mirrors"
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Uma das duplas mais influentes na música “de batida” está de volta após alguns anos em que se dedicaram a actividades mais económicas e menos musicais. Os Coldcut regressam com um disco que mantém características próprias da dupla Jon More e Matt Black: Fragmentos sonoros re-orientados sob a filosofia corta-e-cola e a base melódica em que estas parcelas se acomodam. Este “Sound Mirrors” (Edição limitada com line-up diferente da versão normal no mercado) congrega essa diversidade e originalidade que nos faz lembrar os tempos distantes dos Massive Attack em “Blue Lines”. Aliás esta variedade e imaginação pode ser bem a desculpa para considerar este disco o melhor dos Coldcut, mesmo que isso signifique destronar “Let Us Play” com a sua pérola “Atomic Moog 2000”.
Comecemos a viagem por um incisivo “Everything Is Under Control”, nada calmo ou confortável, antes forte, roqueiro e panfletário. Um warm-up prometedor. Segundo tema e o disco segue por viragens, curvas e contra-curvas até chegar ao dancehall sustentando por Roots Manuva, uma das numerosas entidades que participam em “Sound Mirrors” e Etno-Raffa-Broken-Beat parece-me um estilo apropriado para "True Skool" que choca com a melancolia de “Man In A Garage” adornada com violas acústicas e bleeps. O desgosto não estanca até nos levar ao ponto alto do disco: “Walk a mile”, “Walk a mile in my shoes/and before you abuse/criticise and acuse/walk a mile in my shoes” é o refrão de uma história de amor urbana com sons de cordas e percussão leve que Robert Owens cantaria entre isqueiros num concerto ao vivo com multidão de olhos vidrados. A Ninja Tune compara-a a “Autumn Leaves” (esperando o mesmo sucesso?), mas o desespero amoroso de hoje não se compadece com o glamour sofredor de “Autumn Leaves”. Quando estamos a esperar algo mais uptempo para nos salvar do mar de mágoa, eis que nos aparece à frente a banda sonora de uma vida frustrada, a de “Mr. Nichols”, mas carregada de esperança. Sexta faixa – “Sound Mirrors” - ainda lenta e negra, mas talvez por ser instrumental, eleva o espírito e fornece algum oxigénio entre sons dignos de banda sonora de filme. Foi o prelúdio de um cocktail de batidas e recortes sonoros com “Boogieman” que faz elevar a altitude deste “Sound Mirrors”; A linha de baixo que conversa com um loop uns violinos de som destruído é deliciosa e faz a ponte para “This Island Earth” e para “Just For The Kick”, onde a música de dança se reduz à sua base atómica: A batida. Temos dance-floor hit para mentes distantes em after-hours. Após outras faixas o disco desagua numas planantes “Colours Of The Soul”.
Com uma produção impecável, este disco inicia a viagem no cimo da montanha para lá terminar, após uma passagem arrastada por um vale sombrio. Os Coldcut no seu melhor que se mostram maduros com a orquestração das palavras doces ou amargas, positivas ou deprimidas, duras ou aconchegantes. É interessante acabar a audição a pensar que um disco dos Coldcut também vale pela sua mensagem lírica e não apenas pelas suas manipulações sonoras. Incontornável.
[Coldcut, “Sound Mirrors” 2005, Ninja Tune]
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
[concerto: crónica a dois] Depeche Mode em Lisboa
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» A opinião de Kid Cavaquinho:
O que eu não gostei:
Merchandising a preços exorbitantes.
Gestão deficiente a nível de recursos humanos nos bares.
O que eu estranhei:
Betos a cantar em uníssono com industriais/góticos.
A actuação dos The Bravery, sobretudo focalizada no pullover aos losangos do vocalista.
O que eu não estranhei:
O conservadorismo no alinhamento.
O que eu gostei:
Da qualidade do som acima do que seria de esperar no Atlântico.
O conjunto de luzes e efeitos média que nivelou-se pela a mesma batuta da prestação ao vivo dos artistas.
A voz do Dave Gahan que é de facto sui generis que apresenta um timbre muito ajustado ao tipo de composição da electrónica híbrida, da qual os Depeche Mode se tornaram mestres.
Foi com olhos arregalados e com as orelhas no ar que o povo recebeu os temas de abertura "A Pain That I'm Used To" e "John the Revelator", obras do recente álbum e do grupo "Playing the Angel".
São temas maiores do disco, a par de "Precious", o primeiro single e promotor da tour que decorre e que como seria evidente preencheram o início do espectáculo.
Mas verdadeiramente as hostes começaram quando se ouvi os primórdios sirénios de "Question of Time" e aí sim o nervosismo do público comungou-se e deixou-se exorcizar pelo um electrizante Dave Gahan e pela frágil figura andrógina de Martin Gore.
Creio que os melhores momentos passaram por: "Walking In My Shoes", "Personal Jesus" e pelo o final com um "Enjoy the Silence" arrepiante, tal a ordem de comensalismo entre o palco e a plateia.
Também deixou marcas inolvidáveis, o início do 1º encore com Gore supliciando notavelmente "Shake the Disease" apenas com a companhia do piano, e ainda os incontornáveis hits "I Just Can't Get Enough", "Everything Counts" com este último a levar a melhor, pelos menos na receptividade emotiva.
No 2º encore nada posso dizer pois, levei fiquei a ver tudo azul resultando de uma flashada que me cegou e que acompanhou portanto o meu desgosto de não ter sido servido com "Master and Servant", nem com o "People are People" nem com as articulações maradas do Dave com o "New Life"!
Pagava por mais 2 horas de concerto de Depeche Mode, mas não o farei em Avalarde.
Considero que o som depecheano não se adequa a espaços muitos amplos, inclusive o próprio Pavilhão Atlântico, onde foi visível uma certa frustração por parte do público pela negação espacial da expressão do corpo à apelativa música dançante dos Depeche Mode.
» A opinião de Escrito:
Já muito se escreveu sobre o tão esperado regresso dos Depeche Mode a Portugal, desta feita sob um "Touring the Angel". Um privilégio.
Não importa já sublinhar a expectativa enorme que se vivia à volta deste evento (que vinha desde há muitos meses - desde Junho, por exemplo, que foi quando comprei o bilhete), mas sim a autêntica celebração que se viveu no Atlântico.
Através de uma playlist muito equilibrada entre o que há de novo e os grandes clássicos, a minha maior surpresa foi para o público presente (17 mil), que mostrou não só ter recebido muito bem o recente "Playing the Angel", como também não ter esquecido algumas das músicas mais marcantes de minha juventude.
Excelente a recepção e ambiente para as novidades "A Pain that I'm Used To", "John The Revelator", "Precious", "Suffer Well", “The Sinner In Me” e "Damaged People", apresentadas num palco futurista e que, por si só, constitui uma grande fatia do espectáculo (o Sr. Corbijn é o maior).
Foi muito muito bom perceber que a celebração não tinha apenas sentido único, com bom empatia criada pela energia (não acaba) do vocalista Dave Gahan e entusiasmo e sede do público presente. E deve ter sido por isso que o delírio se instalou com "Personal Jesus", "World In My Eyes", "Policy Of Truth", só para citar algumas. No entanto, a loucura absoluta e total e, para mim, os pontos altos do concerto, apareceram com "Question Of Time", "Behind The Wheel", "Walking In My Shoes" e "I Feel You". Indescritível.
Por fim, seguiram-se os encores lógicos com o sôfrego “Shake The Disease”, "Just Can't Get Enough", "Everything Counts" e "Never Let Me Down" (com o famoso e lindo mar de braços).
Para acabar, nada como “as pazes” de “Goodnight Lovers”.
Não terá sido, nem de perto, um 101, mas que foi uma celebração negra inesquecível... disso ninguém pode duvidar.
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
[INFO] Otites com RSS Feed
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terça-feira, fevereiro 14, 2006
[INFO] Blogosfera
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Post sobre a netlabel Mimi na Agenda Electrónica.
domingo, fevereiro 12, 2006
[ENTREVISTA] Test Tube
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OTITES - Como surge a Test Tube? Porquê a opção netlabel quando estão ligados a uma editora “de carne e osso” como a MONO¨CROMATICA?
Pedro Leitão - Bom, a ideia surgiu em parte para dar vazão à quantidade de demos que nos chegavam, tanto pelo correio como via e-mail, que eram e continuam a ser mais que muitas. E em parte também porque tive a ideia de "testar" alguns conteúdos on-line para posterior edição em disco, ou não. Por outro lado, achei que eram bom dar uma oportunidade a muitos artistas de se darem a conhecer a um público mais vasto. Muitos não merecem continuar anónimos.
OTITES - É óbvio que existe uma filosofia sonora “Test Tube” dentro dos rótulos do experimentalismo electrónico e ambiental, etc. Essa opção foi pensada em contra-posição ou como complemento às edições da mono¨cromatica?
PL - É mais como contra-posição. Aliás, sempre tivemos a noção de que seria muito difícil - e hoje cada vez mais - fazer edições em disco para o mercado comercial de música dita difícil, experimental. Há quem consiga (dou o exemplo da Crónica, que muito admiro) mas é necessária uma ginástica orçamental que nós não temos, para além de uma rede jeitosa de distribuição, que também não temos. Dessa forma, resolvemos "endireitar" a mono¨cromatica em direcção ao quase-mainstream e virar a Test Tube para o lado oposto, para o difícil.
OTITES - Se tiverem uma proposta de qualidade de um artista com sonoridades diferentes das usualmente lançadas pela Test Tube equacionam esse lançamento ou fica, à partida, posto de parte?
PL - Se não houver possibilidade de nos tempos imediatos ou próximos (digamos 1 ano) de o lançar em disco, automaticamente fica apto para um lançamento via Test Tube. Curiosamente, ainda este ano iremos editar em disco um lançamento Test Tube, em parceria com outra netlabel, a italiana Zymogen. Há várias possibilidades para cada caso que nos vai aparecendo.
OTITES - Uma boa parte dos artistas que a Test Tube lançou são portugueses. Como é que os artistas estrangeiros têm conhecimento da existência da vossa netlabel?
PL - É uma boa pergunta. Em boa verdade não sabemos. Talvez por uma série de factores todos juntos: O boca a boca (ou blog a blog) da comunidade de curiosos das netlabels, os próprios artistas que divulgam os seus trabalhos o melhor que conseguem, através do site Archive.org, que muita gente ligada à comunidade conhece, etc, etc. São vários os caminhos que vão dar à Test Tube, poder-se-á dizer.
OTITES - Em que se baseiam para fazer a escolha de artistas que propõem projectos à Test Tube?
PL - Essencialmente na ousadia das propostas. Pode parecer um critério estranho ou descomprometido, mas na realidade essa é primeira qualidade, ou falta dela, que nos chama a atenção. Depois há também a qualidade dos sons escolhidos, a originalidade e outras coisas bem mais subjectivas. A primeira reacção ao som é a mais importante: se não der tusa nenhuma fica logo posta de lado à partida. Tem que mexer com os neurónios.
OTITES - A Test Tube não lançou nenhuma compilação de temas escolhidos dos seus artitas. Opção ou esquecimento?
PL - Nem uma coisa nem outra. Temos uma compilação preparada há quase um ano, mas questões orçamentais da editora-mãe têm-nos impedido de concluir essa empreitada. Para já porque queremos editá-la primeiro em disco, numa edição limitada, e só depois colocá-la online para download gratuito. Vamos a ver se é este ano... temos lá algumas surpresas interessantes.
OTITES - Por escolha própria, algumas netlabels não incluem nos seus lançamentos qualquer tipo de grafismo referente ao disco e/ou ao artista. A Test Tube, pelo contrário, além de incluir essa ilustração aposta numa linha gráfica horizontal a todos os artistas e bandas. Porquê essa opção?
PL - Bem, primeiro que tudo a minha formação é na área visual, não propriamente artes gráficas ou pintura ou fotografia, mas sempre senti uma afinidade muito grande com a harmonia visual, o design, a simetria e assimetria, os contrastes, e as linhas rectas e duras, essencialmente. Quando idealizei a Test Tube estava desde logo decidido, quase inconscientemente, que teria que existir uma coerência muito forte entre os lançamentos, já que, musicalmente, os conteúdos seriam muito variados. A ideia foi criar uma espécie colecção que sensibilizasse as pessoas no sentido de guardar todas as edições, como parte de um todo. Por outro lado, sempre me agradaram as colecções de algumas editoras que respeito muitíssimo e que serviram de inspiração, como a 12k.
OTITES - Com 25 lançamentos e algumas dezenas de milhares de visitas ao vosso site, que balanço fazes de 2005? E já agora, que objectivos para este ano?
PL - 2005 foi um ano excepcional para a Test Tube. Julgo que não voltará a repetir-se. Coincidiu com uma série de factores relevantes, como a explosão do digital, a afirmação dos media players no mercado, e mesmo a descoberta das netlabels por parte de muita gente que as desconhecia. Por isso tudo acredito que este ano haverá uma estabilização do número de visitas e downloads, até porque vão surgindo outras plataformas nacionais e o público, esse vai-se mantendo... Posso no entanto estar completamente enganado e crescer ainda mais, mas em mês e meio de 2006 já deu para ver que houve um abrandamento.
Os objectivos da Test Tubepara este ano são um pouco ambiciosos, mas realizáveis. Gostaríamos de pelo menos manter a quantidade de lançamentos igual, ou até baixar um pouco o ritmo, e aumentar a qualidade das escolhas e a sua diversidade. Essencialmente gostaria de dar a descobrir mais coisas diferentes. Outro dos objectivos é lançar a compilação que já estava planeada desde 2005, e editar o álbum do Lezrod, a meias com a Zymogen. A prioridade no entanto, é o álbum. Pouca coisa, portanto :)
OTITES - O que pensas da reacção dos media em relação ao fenómeno netlabels. E em relação à Internet em particular?
PL - Acho que já era tempo de acordarem. Fico contente mas sinceramente não me surpreende. A nível nacional a coisa está ainda um pouco morna, mas também, o nosso meio é bastante pequeno e auto-limitado, compreende-se. Dou apenas o exemplo da Alemanha, onde existe uma revista que é a De:Bug, que tem também um blog, uma agenda de lançamentos e secção de reviews de netlabels. Isso diz muito do quão estão à frente em questões de tecnologia e avanço na cultura de internet. Mas a comunidade está a crescer, e ninguém poderá continuar a ignorá-la num futuro muito próximo. Já há muita gente e maxer-se.
OTITES - Achas que a filosofia adjacente à criação de algumas netlabels é baseada num movimento alternativo às majors ou existem outros motivos?
PL - Acredito que possa ter ligações com um certo movimento anti-copyright. Ele existe e é relevante. Mas há outras causas mais interessantes do ponto de vista artístico e até social. Há cada vez mais pessoas a fazer música, pessoas sem formação na área mas que fazem música caseira com grande empenho, com paixão e sentido de descoberta. Isso é muito forte. Depois como se sentem excluídas do mercado, que é quase exclusivamente mainstream, sentem-se com grande motivação para s embrenharem pelo underground adentro e criarem elas próprias e através dos seus próprios meios o seu 'mercado' alternativo. Daí terem começado a surgir centenas de netlabels por esse mundo fora. Estamos a falar essencialmente de milhares de pessoas insatisfeitas com tudo e mais alguma coisa, e com vontade de mostrarem aquilo que fazem, sem esperarem nada em troca. Qualquer feedback que venham a ter, representará muitíssimo. Há que dar vazão a toda essa criatividade.
OTITES - Como vês a “cena” da música electrónica e experimental no nosso país? Qual o papel terão as netlabels nesse cenário? Achas possível as netlabels ajudarem algumas bandas a dar o “salto” para as salas de concertos?
PL - A cena da música electrónica neste país infelizmente está muitíssimo atrasada. A grande maioria das pessoas ainda julga que são todos dj's, mesmo quando estão em frente a um computador ou sintetizador. É um bocado frustrante trabalhar nestas condições de quase total ignorância cultural. Há por aí uns quantos nomes de respeito que já têm o seu território conquistado, mas para isso andaram mais de uma década a lutar e agora estão sem forças, talvez estejam um bocado acomodados e isso é até compreensível de certa forma. Tenho muita fé nas netlabels porque estão a abrir portas, como que a darem uma 'palmadinha nas costas', a uma nova geração de criativos, uma geração inteira de gente que não tem vergonha de andar a experimentar coisas novas ou velhas. Estão-se a cagar e o espírito é mesmo esse: experimentar sem se preocuparem se é académico ou não aquilo que fazem. Neste momento da história tudo é válido. Tudo foi feito e reciclado carradas de vezes, portanto para quê questionar os resultados? A palavra de ordem é criar, doa a quem doer. Não há nada de mais libertador do que isso. Fora das convenções e dos espartilhos culturais que foram impostos durante décadas. Basta reparar na agenda e programação da ZDB para se confirmar que há algo a mudar. Agora é necessário que se multipliquem como coelhinhos para o resultado ser o desejado. Quando isso acontecer, daqui a uns anos, já poderemos fazer as contas e verificar que já não estamos assim tão longe dos outros.
OTITES - Como vês o fenómeno MP3: Partilha de ficheiros para usufruto pessoal ou um ataque aos direitos de autor? Pagarias para ter músicas em MP3?
PL - Essa questão é muito complexa. Já paguei por Mp3, pelo menos duas vezes. Mas não será uma coisa que venha a fazer muito. Comprei-os, sim, mas porque essa música não existia noutro formato, CD ou vinilo, caso contrário preferiria um formato físico. Na minha opinião, a diferença não justifica que se opte pelo mp3 legal. E depois há que ver que a qualidade não é a mesma. Eu ainda uso uma aparelhagem para ouvir discos.
Depois, há a questão geracional, que é bastante importante que se coloque nesta equação. As gerações mais novas já não terão a mesma relação com o suporte físico que a minha tem e teve (sou de 73). E não há nada a fazer quanto a isso. Daqui a uns anos teremos putos que só vão conhecer música nesse ou noutro formato digital equivalente. Explicar-lhes o valor de um disco será realmente complicado. Portanto, como é que lhes metemos na cabeça que devem comprar discos ou mp3? E logo quando estão aí à mão de semear, nos P2P.
Estamos neste momento numa fase de transição, semelhante àquela que ocorreu no início dos anos 80, entre a cassette e o cd. Na altura ainda se gravavam muitas cassettes, apenas muito poucos compravam cds, eram caros. a transição demorou quase 10 anos a entrar em pleno, e depois veio o boom dos cds, as majors encheram bastante os bolsos nos 90... Hoje a questão não é no preço, mas sim na ausência dele. O formato digital nasceu na internet, terreno que é anárquico e livre por natureza. O problema da indústria está aí, em regulamentar um território que não se deixa sujeitar a regulamentos pacificamente. Vai ser muito difícil mas eventualmente atingirá um ponto de equilíbrio, que ocorrerá quando estiver a aparecer outro novo formato, e assim sucessivamente. Pela minha parte, continuarei a comprar discos (e a fazê-los) sempre que possível. A ligação emocional com o objecto é muito importante para mim e acho que nunca me conseguirei desligar dela completamente.
OTITES - Conta-nos um pouco do teu interesse na música em geral e na música electrónica e experimental em particular. Quando começou, quais as tuas influências nesse campo?
PL - Vou tentar resumir bastante senão não saio daqui hoje... Comecei a interessar-me pela música ainda puto. Havia um gravador de cassettes portátil lá em casa e quando o descobri e para que servia, comecei a fazer montagens, espécies de mixtapes com outras cassettes. Desmontava umas, tirava a fita, cortava, colava e montava novamente. Era assim que fazia compilações porque só havia esse gravador em casa. Havia também um gira-discos mas o meu pai não me deixava mexer nele. Depois comecei a comprar cassettes e a gravar em casa de amigos umas coisas que não conhecia. Coisas dos anos 80 basicamente, Duran Duran, OMD, Depeche Mode era o que estava a dar na altura. Depois fui estudar para o Porto e comprei o meu primeiro walkman. Depois tive uma pequena aparelhagem com leitor de CDs e a partir daí foi a desgraça. Gravava cassettes com tudo o que apanhava em casa dos colegas, CDs, vinilos, e também gravava os meus CDs, claro, para poder ouvi-los no walkman (os discmans ainda eram caríssimos...). A colecção de discos foi crescendo... e com ela fui-me interessando por vários géneros, essencialmente dentro da pop e do rock. Fui-me tornado mais exigente e houve uma altura (que coincidiu com a entrada no ensino superior) em que deixei de me interessar por parte da minha colecção e vendi e ofereci umas centenas de discos... pura burrice! hoje estou bastante arrependido e aprendi a lição. Até tenho vergonha de dizer aquilo de que me desfiz...
Foi só quando vim viver e estudar para Lisboa que me comecei a interessar pela electrónica, muito graças a alguns colegas mais informados, à XFM e a um colega de apartamento canadiano que trouxe muitas coisas de lá. Comecei por coisas mais ou menos mainstream, outras nem por isso, e fui esgravatando, exigindo mais, sem nunca deixar de lado o rock e a música feita com guitarras, anglo-saxónica ou não. Houve uma fase em que me dediquei quase a 100% à descoberta da electrónica, e as guitarras ficaram um pouco para trás, mas vou sempre acompanhando as coisas. Tenho pena de conhecer pouco de Jazz e de World, apenas algumas coisas para óbvias e os clássicos, mas ainda assim não me posso queixar.
Na música electrónica e experimental as minhas grandes influências foram a electrónica alemã (mille plateaux, kompakt, mego), a WARP e a electrónica norte-americana de detroit. Depois fui descobrindo outras coisas, noutras latitudes... Canadá, América Latina, Austrália e África do Sul. E Portugal também, claro, Toral, Tozé Ferreira, Vítor Joaquim e outros. Acho que é mais ou menos isto.
OTITES - Uma pergunta ingrata: Qual o disco que mais te agradou no catálogo (já extenso) da Test Tube?
Ubeboet marcou-me muito também. Lembro-me que foi com ele que me apercebi que a test tube estava a tornar-se um caso sério. A fasquia estava a ficar muito alta e daí para a frente a atenção dada aos lançamentos teria que passar a ser muito cuidada. E também porque o ouvi e viajei com ele muitas e muitas vezes.
DOPO é também especial para mim. Primeiro porque é uma banda de amadores que amam ser músicos. Fazem música sem rede, comungam nela, e acreditaram na test tube, em mim. Colocaram a cabeça no cepo, por assim dizer, porque eu acreditei neles. E isso é especial. Por mais discos que venda, por mais dinheiro que ganhe com a música, estas coisas que se criam, ligações, a crença na música só por si, só porque sim, é o mais importante. DOPO é amor.
OTITES - Que discos tens no teu leitor e o que tens ouvido actualmente?
PL - Namedropping! Já tinha saudades disto. Ora cá vai, tenho ouvido, sem nenhuma ordem especial:
Watkin Tudor Jones 'The Fantastic Kill' - um disco de hip hop sul-africano de um gajo que é um génio. Uma coisa para além do hip hop tal como o conhecemos. O beat sul-africano misturado com histórias macabras para crianças sobre bichos de peluche assassinos. Espécie de historiazinhas para embalar pequenos monstrinhos. Surreal e imensamente divertido e hilariante.
Omit 'Tracer' - Um disco duplo fenomenal dum neozelandês que vive isolado de tudo e de todos. electrónica old-school com recurso a máquinas vintage. Uma viagem tremenda. A editora responsável pela obra já está em vias de se tornar numa favorita pessoal. Chama-se The Helen Scarsdale Agency.
Nice Nice 'Spring, Summer, Fall, Winter' - Os meus preferidos do momento. Uma colecção de quatro discos sazonais de uma dupla que, se não der que falar, se não houver hype, então deus não existe mesmo. Guitarra e bateria em constante diálogo estratosférico, ora agressiva, roufenha, pesada e dolente, ora jazzística, leve, e etérea como os deuses indianos. Algures entre uns Sonic Youth na sua encarnação mais experimental, passando pelos Yo La Tengo, e qualquer dupla de jazz mais experiemntável. Para mim é já a descoberta do ano.
Os últimos trabalhos do Mikel Martinez aka Aitänna77, que tem feito um trabalho estupendo na ligação entre a folk mais identificável e a melancolia inesperadamente digital. Este tipo merece ser editado por alguém, e se ninguém se despachar, faço-o eu.
Numa vertente mais dançável, Modeselektor 'Hello Mom!' está brilhante. Dança-se com o corpo e com a cabeça. Irresistível.
Também tenho ouvido os últimos lançamentos das netlabels que sigo com mais atenção: Stadtgruen, Thinner/Autoplate, Rope Swing Cities, Complementary Distribution, Kyoto Digital, Serein, Yuki Yaki, Pentagonik, Alg-a, etc...
Tenho ouvido também muita coisa que vai sair na Test Tube, desde uma banda de rock italiana (palavra de honra) aos projectos a solo dos dois membros dos Frango que sobraram (PCF Moya e Barcos), que são fantásticos, mesmo muito bons. Mais uns gajos japoneses (um repetente, o irish) e um Argentino que quer ser o Ryoji Ikeda. Há também uns russos que ainda não ouvi tanto quanto gostaria e um duo italiano que faz elctrónica rugosa sobre guitarras. Há de tudo um pouco. Há até alguns temas cantados lá pelo meio de tudo.
OTITES - Resta-me agradecer o teu tempo disponibilizado e pedir algumas palavras que queiras dirigir aos nossos leitores.
PL - Palavras para os leitores? Arrisquem a ouvir o que não conhecem, às vezes as surpresas são muitas e agradáveis, e partilhem aquilo que gostem. Não há nada mais recompensador. E acreditem nas netlabels... são as 'indies' do século vinte-e-um. Podem escrever que fui eu que disse.
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
[INFO]
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Os «amantes» da música têm a partir de hoje a oportunidade de adquirir novidades e raridades discográficas a preços mais baixos, na terceira Feira do Disco - CD e Vinil, promovida pela câmara de Évora até domingo.
Miguel Francisco Cadete assume direcção do Blitz
Miguel Francisco Cadete é o novo director do Blitz, depois de Vítor Rainho (director-interino) ter anunciado a sua renúncia ao cargo.
terça-feira, fevereiro 07, 2006
[INFO] WARP Sale
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segunda-feira, fevereiro 06, 2006
[disco] Arcana "Le Serpent Rouge"
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Após 10 anos dedicados ao som mais medieval, fantasmagórico e, ao mesmo tempo, romântico, os Suecos “Arcana” decidiram, em 2004, seguir caminhos diferentes – os caminhos do oriente em “Le Serpent Rouge”.
Peter Bjärgö, fundador da banda e único membro original da banda, parece ter deixado de ser assombrado pela “imagem” da idade-média, passando com classe e distinção para um patamar bem mais próximo da mais lógica fonte de inspiração – os míticos Dead Can Dance. Sons etéreos, atmosféricos mas, por vezes tenebrosos, muito por culpa da percussão intensa e cavernosa.
Não que seja esta a ideia que fique após a primeira faixa do disco, “In Search of the Divine” – algo como um intro de sentimento algo invertido e demoníaco, porque de divino pouco parece ter.
De qualquer modo, a “cicatriz” do disco surge – para mim – e fica para sempre com a faixa que dá nome ao álbum, “Le Serpent Rouge”. Música deliciosa, que caracteriza muito bem a mudança anunciada para a zona mais a este. Harmoniosa mas medonha, impede-me desde logo um possível torcer de nariz a esta nova sonoridade. Antes pelo contrário. Significa, sem dúvida, um portão escancarado para o novo reino da banda que tão bem parece já governar.
Com calma, mas sempre cadenciados, os sons embriagantes e atmosféricos prosseguem ao longo do disco, levando-nos sempre a zonas ainda assustadoras e, certamente, povoadas por espíritos horrorosos, ainda que sedutores. “Cathar”, “Amber”, “Seductive Flame”, “Serpents Dance”, são bons exemplos que nos levam a “The Passage” para a zona mais que mais vinga – “The Nemesis”.
Este disco será, com certeza, a maior surpresa que já tive com os Arcana. E uma surpresa muito agradável, diga-se. Não que prefira totalmente a nova sonoridade... e não que não tenha saudades das características mais deprimentes, medievais e doentias dos tempos idos, no entanto, o disco fala por si só, e a mim a serpente fez chegar o seu irresistível veneno.
Site oficial: http://www.erebusodora.net/arcana
Em mp3, a 2ª faixa do álbum (vale bem a pena): Le Serpent Rouge