[disco] Rádio Macau - "Spleen". De são e de louco, todos temos um pouco
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Num golpe de sorte, porque «há dias assim», caiu nas minhas mãos um disco que fazia questão de ter e ainda não tinha. O motivo de maior interesse talvez fosse o facto de ser o álbum que saiu entre os meus dois favoritos de uma das bandas portuguesas que mais prefiro. Falo do “Spleen” dos Rádio Macau, que foi lançado em 1986, depois do “Rádio Macau” e antes do “Elevador da glória”, e escrevo sobre este apenas porque é um dos discos que mais tem rodado no meu leitor actualmente, e também porque gosto quase tanto dele como do álbum anterior e do que se seguiu.
“Spleen” corresponderá a um disco que surge naturalmente numa sequência marcante da banda, não só trazendo a sua distinção, mas também deixando aberta a porta para o mítico «elevador» que ascenderia no ano seguinte. Ouvir este disco em pleno ano 2005, reforça-me a ideia de que os Rádio Macau estavam uns passos à frente do que se fazia naquele tempo, com criações intemporais que me atingiram na altura, e que me preenchem no presente. “Spleen”, ainda assim, é um disco diferente, que se apresenta como um todo e em que cada música, por si só, não faz tanto sentido se não estiver enquadrada no conceito do disco.
A sonoridade é a típica dos Rádio Macau dos anos 80, em que fechamos os olhos e a obscuridade nos transporta para um sentimento nostálgico de tempos urbano-depressivos de quem está «entre a espada e a parede» trazendo, ao mesmo tempo, a sensação obsessiva de um romantismo fatal.
Mas uma aposta forte, sem dúvida, estará no requinte dos textos usados (o que, aliás, sempre foi um trunfo da banda). Um gozo delicioso quando ouvimos a voz de Xana conjugar-se na perfeição com letras ora tão descritivas como em “Spleen” (a música), ora tão sombrias como na excepcional “Lua Assassina” (um verdadeiro clássico, para mim, ao qual «ergo aqui a minha taça»).
O conceito é perfeitamente complementado com os assinaláveis registos instrumentais, tal como com todas as extraordinárias sensações visuais e auditivas, tão bem transmitidas e patentes no «nervoso rir do relógio» que teima em não parar no tempo.
Recuar a «1986» é fácil e agradável, ao som de um grande nome da música portuguesa, e está ao alcance de todos reconhecer, com este disco, que esses tempos eram muitos bons. E é mesmo por ser tão bom recordar, que não fica nada mal deixar este «convite assim sinistro e imoral» para vasculharem nos sítios mais antigos e “desencantar” este disco tão marcante.
» Info sobre os Rádio Macau em http://www.universalmusic.pt