[Concerto] Mísia "Canto"
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As noites de Sintra têm a tendência de serem frias e húmidas, ainda mais numa noite de fins de Outubro. Faz parte do seu encanto.
E para encantar, nada há como um concerto de Mísia, toda a gente sabe. Prometia ser, pois então, uma noite encantadora.
Veio assim este concerto em Sintra para promover, de novo em solo nacional, o seu último "Canto", albúm que pegando em canções de Carlos Paredes, dá voz em forma de palavras, aos temas que lhes deram origem. Um presente em forma de disco, para esse artista maior.
O concerto teve lugar no Olga Cadaval, sala que se pauta por um extremo bom gosto nos mais pequenos pormenores e por óptimas condições acústicas. Excelente.
O concerto, pois então. Começou com um instrumental, despique entre guitarra clássica e portuguesa, que aquece os dedos de quem as toca e o ambiente para ela. Ela.
Elegante, como sempre, desfia alguns fados já conhecidos e outros por conhecer num albúm a gravar em breve. À primeira audição, não surpreendem, mas soam muito bem. Mas as surpresas, que as há, ficam para o fim.
Vêm então as canções de Paredes. E com elas mais três instrumentistas, que formam a pequena secção de cordas, essencial para dar forma ao que se ouve no "Canto". E como estas músicas amadureceram bem. Já as ouvi em duas prévias ocasiões, e de novo salta ao ouvido que a rodagem delas em palco, só as beneficia.
Tentando não apressar o fim do concerto, tem ainda de se lembrar o fado fetiche de Mísia, a "Lágrima" amaliana. É sempre um ponto alto nos seus concertos, embora desta vez haja a apontar um trinado deslocado da guitarra portuguesa, quase sempre irrepreensível. Talvez seja um preciosismo, mas o grau de excelência presente, leva a estas coisas.
É o que nos habituou uma Mísia, cada vez mais comunicativa em palco, talvez por lá se sentir, cada vez mais, como numa segunda casa.
E por fim, o fim. E que surpresa foi. Um bolero intitulado "Te estranho", que logo me fez sentir a falta do novo albúm ainda por gravar, que incluirá não só fados, mas também boleros e tangos. Sim, leram bem. Tangos, boleros e fados, que ela ouviu na sua infância.
Pois nem só de fado vive a maior fadista dos nossos tempos.