[vinyl] SITIO DO PICA PAU AMARELO
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A partida poderia supor-se que o vinyl que reunisse algumas músicas do programa infantil brasileiro que passou nos televisores nos anos 70 e 80 , fossem direccionadas para o pequeno público. A desmistificação desta ideia surge de uma descoberta abismal de um vinyl antigo. Para quem se lembra, o Sítio contava as aventuras de duas crianças citadinas de férias num povoado rural onde as peripécias contavam com seres enfabulados como a Emília ( boneca falante), o Saci, a Cuca ou o Visconde sabugo de milho entre outros demais. O grande nível dramático e avontade por parte dos actores permitiu miscísgenar os sonhos das crianças e o mundo real dos adultos,recorrendo a uma linguagem para adolescentes.
O disco começa com uma das melhores músicas de todo o alinhamento, ‘Narizinho’ na linda voz de (Lucinha Lins). A sobremesa na forma de um molotof, ou seja, uma voz caramelizada numa estrutura melódica tão leve como umas claras em castelo levantadas.
A seguintes faixas após ‘ploquet pluft nhoque’ e ‘peixe’ são ‘saci‘ o espírito moleque descrito por um quarteto vocal acompanhado por um fagote e ‘Visconde de Sabugosa’ pelo o grande (João Bosco), um dos precussores da bossa nova, exímio e capataz do violão. Do estilo de malandragem para uma interpretação mais adequada a novela da Globo vem ’Dona Benta‘,um título de homenagem à avózinha contadora de histórias por (Zé Luis).
‘Marmelada de banana, bananada de goiaba, goiabada de marmelo... sítio do picapau amarelo sítio do picapau amarelo... ‘, pois é, quem não se lembra deste refrão no início do programa cantado pelo o agora ministro de cultura brasileiro (Gilberto Gil). A alegria pura tropicalista do baiano num grande hino para a infância de pelo menos 3 gerações.
‘Pedrinho’ e ‘Arraial dos tucanos’ dois registos mais, o primeiro a fazer lembrar o new age brasileiro do anos 70 pelo o agrupamento (Aquarios), o segundo uma bela rábula sertaneja com rabeca e concertinas à mistura.
Depois segue-se uma canção que quase na sua totalidade é de embalar, e na qual o mestre (Dorival Caymmi) e o seu violão visitam a memória de ‘Tia Anastácia’, a simpática ama que fazia pitéus deliciosos e que tanto se arreliava com as travessuras de Saci e Emília. Tia Anastácia já partiu para o outro lado , mas na memória da criançada hoje quase quarentona ficou aquele enorme sorriso.
O que vem logo a seguir é um clássico, ‘passaredo’ por mais um quarteto vocal, desta vez masculino e melhor do Brasil (MP4).
Sergio Ricardo é um compositor desconhecido entre nós no mundo da música popular brasileira (MPB), talvez ensombrado pelo os monstros sagrados como os Caetano Velosos, as Gal Costas, as Elis Reginas,etc..., mas o tema a que deu corpo (Emília) revela-o como uma pérola ainda fechada por uma concha com o formato desse país gigante.
Para finalizar esta obra, uma viagem pelas lengas lengas emergentes dos fantasmas do pantanal ou da imensa floresta amazónica ; (Marlui Miranda e Jards Macale) é ‘Tio Barnabé’ que ora se ri de tudo ora corre apavorado contando ofegante os sustos que apanha. É o quotidiano dos que optaram sucumbir à beleza da Natureza rezando aos orixás para que esse universo de magia lhes proteja os sonhos.
: Nessa mata tem flores, os olhos do Saci, mulatos com suas cores, gentes com os seu amores,..., e os orixás que nos acudam que nos valem nessa hora :
Neste disco ainda haveria lugar para a temível Cuca ou para o confuso Zé Carneiro, mas por certo que na riqueza da ( MPB),se encontrará quem lhes tenha feito no som igualmente eternos.
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