[Disco] Mísia "Drama Box"
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Como começar? Em quando a vi pela primeira vez na Aula Magna e me arrepiei com a sua "Lágrima"? Quando ouvi a sua "Triste Sina"e me ficaram para sempre as palavras por lá cantadas "...e para quê os meus cinco sentidos, se a gente não se abraça não se vê..."? Ou de cada vez que a vejo e oiço e me apaixono irremediavelmente um pouco mais ainda?
Seja lá como for há que começar. E havendo um novo disco, não percebo o porquê de tanta hesitação... pudera eu não perceber tal coisa...
O facto é que as palavras ficam num rodilho quando tento escrever sobre ela. E isto não é mais que um apelo à vossa compreensão. Críticas e paixão são coisas complicadas de conciliar e se uma geralmente acaba com a outra, então o melhor é dizer que ainda "Drama Box" não tinha saído e já eu gostava dele. Acaba-se assim uma pretensa crítica, como se poderia pensar.
Nas últimas actuações já se prenunciavam os novos fados, os tangos e boleros que, de novo, renovam a carreira de Mísia. A todos estava rendido. Só faltava a sua transposição para a imaculada assepsia de um cd e ver como assim soavam.
Magnificamente será suficiente? Excessivo claramente não o é.
Destacar o desconsolo de "Te extraño", a afirmação de "Yo Soy Maria", significa esquecer os outros temas em castelhano? Apague-se então esta última linha!
Realçar a paixão distante de "Fogo Preso", o fim da estrada de "Se o Nosso Mundo Anoiteceu", significa esquecer outros fados, deste e de outros discos? Apague-se já estas linhas por inteiro!
Mas antes de tudo disso leve-se "Drama Box" para casa. Oiçam-se as palavras de Vasco Graça Moura, de Natália Correia, de José Saramago, de José Luís Peixoto, as composições de Mário Pacheco, de Piazzola. E saia-se de casa para ver como resulta ao vivo, o apuro estilístico, o visual requintado, a emoção transposta lá.
Sinta-se Buenos Aires, entre uma rambla de Barcelona, com vista para o Tejo.