[DISCO:crítica] Agricultuna "Agricultuna"
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Confesso-me como um céptico da “normal” música de tunas. No entanto, a Agricultuna (Tuna Académica do Instituto Superior de Agronomia) lançou um disco (homónimo) a que o adjectivo “normal” não se aplica: não é um vulgar disco de tunas.
Comecemos, então, pelo princípio. “Ruralidades” espanta-nos com um instrumental cheio de raízes. Raízes, será de facto, o termo a usar: A colagem a uma música popular portuguesa é muito bem conseguida com a inclusão da gaita de foles (nem o “ronco” foi escondido) e recorrendo apenas aos instrumentos sem qualquer vocalização. Na segunda faixa, “Lisboa Antiga”, a devida homenagem a Lisboa é o primero tema que mostra as vozes dos tunos. Tom alegre e tradicional, mas comedido. Eis que com “Lisboa” nos chega uma das grandes momentos deste disco; Um poema de amor sentido, mais uma vez à capital, com vozes acompanhadas dos instrumentos e a sós, sem rede. A segunda das três surpresas de “Agricultuna” acontece agora, na quarta faixa, “Marcha de Alfama”, com a participação de João Afonso que condimenta este tema de forma calma em contradição com a força das vozes dos tunos; O contraste é muito bem conseguido e muito enriquece esta “Marcha”. A “Jaguncina”, ligada a uma matriz popular é composição muito bela não mostra, infelizmente, a força do “ao vivo”, (não se pode condenar ninguém por isso) e talvez por esse facto o contra-baixo está sempre presente a encher a música. Se, até aqui, nenhum dos nomes dos temas se poderiam referir à temática de tunas, a sétima faixa, “Tunantes”, não defrauda. Um poema que descreve a vida dos tunos com mágoas e alegrias, errantes e estudantes. Durante seis minutos e meio assistimos a uma montanha-russa de emoções com a amizade e a música como pano de fundo. A flauta, que já se havia mostrado antes, marca a diferença. O espanhol, aprecie-se a escolha ou não, aparece em três faixas, “Serenata Huasteca”, “El Novillero” e escondida em “Ruralidades”, no final. Demonstrando a sua amizade à Tuna del Universidad Regional del Sureste estes temas atiram mais achas à fogueira deste caldo heterogéneo que é este disco. Quase no fim, em “Fim de Curso”, um tom mais arrastado, mas nem por isso exageradamente triste até porque é alterada a sua cadência durante a sua execução. “Fim de Curso” é interessante porque se afasta, mais uma vez, do que se poderia estar à espera, mas aproxima-se de um registo “pop” não superficial e muito agradável. Por fim, não há duas sem três. “Ruralidades” numa versão “folk” aparece-nos: ribalta para a gaita-de-foles e a percussão de um tema despido, mas sem dúvida o que mais me agradou nos 51 minutos deste disco. Apenas um defeito: Como é possível apenas durar dois minutos?
Comecei por querer têr este disco por motivos puramente afectivos; Passei a gostar dele; Depois vi que o compraria em qualquer ocasião. A “Agricultuna” está de parabéns e tem razões para isso.