[DISCO] Thievery Corporation "Cosmic Game"
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O duo Thievery Corporation (Rob Garza e Eric Hilton) consegue com este “Cosmic Game” superar a fasquia imposta pelos três albúns anteriores. Começamos por observar as múltiplas colaborações que este disco contém e que conta com a ajuda dos Flaming Lips, de Perry Farrell e David Byrne entre outros. De facto, a maioria dos temas surge em colaboração com terceiros.
A base multivariada de hip-hop, bossa nova, dub cruzam-se com inúmeras influências étnicas indianas e brasileiras. Isto revela-nos um disco dos TC mais “cheio”, isto é, com os temas a desfilarem com o “esqueleto” menos à mostra, apresentando maior consistência no formato canção em vez de serem apenas alguns loops agrupados com gosto durante 3 minutos e meio. Os TC chegam à maturidade neste “Cosmic Game”.
O tema debutante, “Marching The Hate Machines Into The Sun”, é ilustrativo do título do disco, mas não do albúm em si. Planante e com uma voz adjectivada com um delay, bem como uma linha de sintetizador macia que confere “ambientalidade” a um tema downtempo. Começam bem os TC, mas estranha-se a direcção mais electrónica que, inesperada, causa-nos espanto. Engano efémero, visto que “Warning Shots” soa-nos aos TC que editavam no “Covert Operations”: dub e composição rítmica descomplexada baseada no hip-hop. “Revolution Solution”, terceira faixa corrobora a direcção tomada visto que as sonoridades orientais marcam presença neste tema. Nesta classificação podemos, ainda colocar, “The Supreme Illusion” (tema 13) que, mais martelado, não dispensa vocalizações orientais e “Doors Of Perception”, uma faixa ambiental com laivos de world-music. O dub, sempre presente na história e nas composições dos TC mostra-se em todo o seu esplendor na parceria com Notch em “Amerimacka” em que a musicalidade e a harmonia é realmente bela. Sem dúvida, um ponto alto em “Cosmic Game”. Segue-se então, uma visita à embaixada brasileira com influências várias (desde a poesia ao berimbau e às percussões variadas). A colaboração com David Byrne tem como resultado uma das músicas mais melódicas dos TC: Em “Holographic Universe” todos os ingredientes que existem no sintetizador de qualquer um se misturam, mas apenas os TC sabem juntar as proporções correctas que levam a que o “chill out” (um conceito que ajudaram a inventar) marque a sua presença neste disco.
Os Thievery Corporation não inovaram neste “Cosmic Game” (e duvido que o façam no futuro). As sonoridades são revisitadas de outros discos e a filosofia não se altera muito, mas, no entanto, onde é que o downtempo assume uma qualidade tão grande?. A colaboração com outros artistas como David Byrne, Notch e The Flaming Lips deu resultados frutuosos e tornam “Cosmic Game” um disco mais rico, mais adjectivado e com variações que “Richest Man In Babylon” não possuia. Em conclusão, podemos comparar este disco a um programa do Júlio Machado Vaz: sabemos que é bom. Sabemos que pode ser um pouco melhor, mas sabemos que não vai sair daquele assunto.
[Thievery Corporation "Cosmic Game", Esl Music, 2005]
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