sexta-feira, novembro 12, 2004

[Crítica a cinco mãos] Low "Trust"

Nota prévia

Iniciamos aqui uma nova rubrica e como tal, serve este intróito para explicar os seus moldes.
Tenho cada colaborador os seus gostos e preferências e sendo este espaço, um de diversidade musical, achou-se interessante partilhar álbuns muito especiais, para um, com os outros.
Assim, surge uma crítica orientadora de quem sugere o álbum e as restantes de quem o ouve, sugestionado. Espera-se assim uma visão global de algo que um de nós sente como único.




Visão de Serebelo

Ouvir este "Trust" é algo que guardo para alturas muito especiais. Dias em que sei que nada tenho para fazer durante a sua audição. Dias em que me posso entregar completamente a algo que, como esta obra, me consome. Sim, consome. Porque este é um daqueles álbuns que desperta a otite que existe, prende-a num nó e deixa-a atravessada na garganta à espera de uma nova audição.
Ouvir esta obra é pois, mergulhar num universo pesado, opressivo, mas e devido a isso mesmo, quando a luz perspassa levemente pela janela entreaberta de um acorde menos sombrio, dá ideia que o mundo se ilumina com um som apenas.
Nada que não volte à penumbra anterior e de um modo bem rápido, mas, como se sabe, a efemeridade das coisas belas é algo a que não se pode fugir. Portanto, não haja aqui muitas dúvidas, quanto a este disco: não é algo para se ouvir de modo leve. Afinal, é por álbuns como este que a crítica inventou o termo "sadcore", que de ambíguo terá muito pouco e não deixa espaço para grandes divagações.
Cada som tem aqui um papel de instrumento, pois não serão estes a tocar os anteriores. Aqui é o tempo que cada som pode ter, que define a estrutura da música. O ritmo que a música pode ter, é igualmente moldada ao factor tempo e muitas vezes tem a cadência de uma chuva no deserto mais inóspito. E a vozes... como, mesmo agora que escrevo isto ainda oiço aqueles coros femininos que embalam uma pessoa até ao fundo das canções. Ainda oiço pedaços de letras que me ficarão para sempre na memória...When we were young, and we wanted to die... Talvez haja alguém que se tenha sentido assim, como eles, num dia qualquer, quando era jovem.
Por esta ser uma crítica dividida, não me quero alongar muito mais, enquadrando a obra, ou falando das influências e origens da banda. Outras alturas haverão. Fiquem, pois, com as visões dos restantes colaboradores.




Visão de Rudi


Parece-me um álbum um pouco difícil de ouvir, muitas das músicas perdem-se em experiências pouco melódicas para os meus ouvidos, levando a que várias peças não sejam do meu agrado. Consigo dividir o álbum em dois, sendo na segunda metade que aparecem esses sons que causam estranheza aos meus aparelhos auditivos…porém, a primeira metade é bastante audível com músicas muito interessantes, embora um pouco tristes. São músicas que não me transmitem alegria, que não me animam, fazem-me lembrar a onda depressiva de Tindersticks, algumas mesmo um pouco mais deprimentes. As outras músicas não me fazem sentir vontade de voltar a ouvi-las. São uma confecção de vários sons de aspecto futurístico, que me fazem imaginar uma qualquer viagem intergaláctica, mas confesso que não consigo retirar nada delas…



Visão de Work Buy

"Sendo-me totalmente desconhecidos, banda e obra, estes Low apresentam-se neste “Trust” como uma banda pop-rock com sonoridades simples e descomplicadas, mas densas estruturas rítmicas simples.
Numa primeira audição o disco, a meu vêr, poderia acabar num EP de seis temas em que os sons lentos melódicos da Santa Trindade do Rock n’ Roll (guitarra, bateria e baixo) gerados pelos elementos do grupo se embatem com outras faixas baseadas em rifts rasgados e distorcidos. Como exemplo no primeiro caso temos "Tonight" e no segundo "Canada".

A tal estrutura rítmica descomplicada chega a ser despojada. Da simplicidade fazer algo grandioso é reduto de génio, mas os Low roçam a excelência sonora em “Candy Girl” (terceira faixa) em que o baixo e bateria compôem, por si só, esta melodia com guitarra a condimentar um rock arrastado e lento. O acústico está, também, presente e ao contrário do que se esperaria, condiz bem com as descargas eléctricas aqui e ali presentes nesta hora e quatro minutos oferecidas pelos “Low”.

Encontrar um limite superior e inferior para classificação deste albúm, incluindo género musical, ao fim ao cabo, o Santo Graal dos críticos musicais, torna-se difícil. Simplificando, Morphine meets Chris Isaak meets Enio Morricone seria uma aproximação tão disparatada como qualquer outra."


Visão de escrito

Antes de mais convirá referir que é a primeira vez que um disco dos Low me chega aos ouvidos.
“Trust” é um disco que acaba por me surpreender com uma solidez, coesão e uniformidade notáveis, que me parece apenas ao alcance ou de músicos prodigiosos ou muito experientes. Com um som esmagador, não por ser rápido ou enérgico, mas pela sua lentidão poderosa e pesada, no sentido de possuírem uma solenidade e soturnidade de quem efectivamente fala sobre doença e morte, acaba por ser um álbum intenso e rapidamente assimilável.
A qualidade musical é inequívoca embora os Low sejam daquelas bandas que só mesmo os grandes apreciadores do estilo vão ouvir os seus discos vezes sem conta. Isto não por seu demérito, obviamente, mas porque a sonoridade que produzem é muito complexa, intensa, doentia e até cansativa. Para além do mais, e tendo a conta os estilos a que estou mais habituado, ouvir este “Trust” provocou-me uma certa confusão, visto que em certos momentos dei por mim a estranhar que uma envolvência tão sombria e carregada possa vir acompanhada de uns registos vocais que aqui e ali me fazem lembrar... Simon & Garfunkel. E é capaz de ser aqui que este disco se afasta quase irremediavelmente do meu leitor, com muita pena minha, principalmente ao conseguir reconhecer a capacidade desta banda em criar sons tão promissoramente adoentados.
De destacar, quanto a mim (e não desdenhando as restantes), a 1ª faixa, “(That's How You Sing) Amazing Grace” por funcionar perfeitamente como música introdutória ao chamar decididamente a atenção para o que se segue; a 3ª faixa, “Candy Girl”, simples mas firme e obcecada; a 9ª música, “John Prine”, moribunda mas intempestiva; e a 12ª “Point of disgust”, com os melhores registos vocais do disco e de uma beleza requintada.
Uma proposta muito agradável (com zero de ingenuidade, precipitação ou imaturidade, antes pelo contrário - calculado ao milímetro e nitidamente genuíno) que valerá mesmo a pena conhecer e que certamente voltará a soar no meu leitor.


Visão de Kid Cavaquinho

A primeira experiência auditiva deste disco chega a ser a suficiente para
alcançar uma otite, pois repara-se que existe qualquer coisa de doce, algumas fragâncias enebriadoras que provocam sensações de calmaria.
Tal como o nome do album indica, há que ganhar confiança a cada música que nos é sugerida sabendo o que nos espera é na sua quase totalidade peças melódicas lentas como a própria referênia do grupo é indiciadora.
Observa-se uma homogeneidade de todo o trabalho nestas linhas mais lentas, com algumas excepções que sinceramente não contribuem muito bem para todo o novelo sonoro. Igualmente é discernível que a voz, é elemento secundário e que talvez por isso as performances do vocalista não se destacam, nomeadamente a qualidade do timbre. Mas falando das mais valias, que são as que interessam e valem a aquisição deste disco, "Trust" é um desses objectos que funcionam em espiral que tal como encarnam através do play reencarnam muito facilmente em mode repeat. Uma das noções que me levam a dizer isto, é facto da transportação para os ambientes nordoestinos norte americanos que nos remetem para a série televisiva "Twin Peaks" e para a sua banda sonora. Diria que o trabalho dos "Low" é como um rio longuíssimo, sinuoso, ora cintilante ora opaco em que o que é transportado é algo mais pesado que a simples água.
Atrevo-me a descreve-lo como sons com a mesma densidade específica que o mel verde, o mesmo que que nos encerra as palpebras e soporiza as vontades, os delírios e as ausências.





 

 

 

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