[Info] The Blue Room
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Volto a insistir na excelência dos programas de rádio da BBC. Depois de Zane Lowe, destaco agora um programa que passa das 4 às 7 da manhã (felizmente estão disponíveis no site a qualquer hora...), muito ecléctico e capaz de surpreender constantemente. Chama-se The Blue Room e são dois dj´s que fazem este programa: Chris Coco e Rob da Bank. Para contextualizar a coisa, este último foi quem ocupou o horário de Jonh Peel aquando do seu desaparecimento. Só por isso vale a pena uma audição.
domingo, maio 29, 2005
[disco] Quintetto X "Novo Esquema da Bossa"
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Mais música do país do samba e futebol forjado no velho Continente com a benvida reedição em CD de um lançamento LP do Quintetto X, da editora italiana Schema Records, onde pontuam Nicola Conte, Gerardo Frisina, Dining Rooms e Les Hommes.
Claro que a denominação comum que afecta todos estes trabalhos é o jazz livre por vezes carregando no swing outras vezes em sonoridades de outros trópicos com especial atenção à rítmica do samba.
Estes cinco italianos, que intitulam o seu álbum como ‘Novo Esquema da Bossa’, legam-nos um consistente e entusiamante pacote de 14 faixas cheia de influência de bossa dos anos 70 e da eclética fase dos anos 80. Encontra-se no arranque peças como: Diplomacia, Novo Esquema da Bossa, Senza Paura; no caroço do album é tempo de escutar: C’e piu samba, Eumir, Brasileiro; e no final Suono Nuovo e Mentira.
E a grande verdade é que dá prazer ouvir este CD. Dá a sensação que ainda se pode maquilhar com inteligência um género já revisto e experimentado descobrindo novas facetas interpretativas em registo ‘jam’ ou em colaborações, a ouvir a título de exemplo: Horace Silver's sobre ‘The Jody Grind', ou o veterano Marcos Valle's em 'Freio Aerodinamico' e ainda o que fizeram com ‘Balança Pena’ de Jorge Ben.
Disco obrigatório para quem gosta do estilo.
[disco] Barnabé "Regional"
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Nestes dias luminosos de Maio, se a vontade é petiscar pataniscas e beber uns refrescos, ler um livro na breve brisa e embalar os pensamentos ao pé do rio, a sugestão musical para acompanhar é a seguinte: ‘Regional’, por Barnabé. Um quarteto de Barcelona e que congrega dois músicos catalães e mais dois brasileiros que, apaixonados pelo chorinho desfilam em 13 temas escohidos a dedo, composições de ‘choro’.
São todos intrumentais de grande nível, de incontornaveis compositores como Pinxinguinha (‘Proezas de Solon’, ‘Naquele Tempo’ e ‘Ingénuo’) ou do profícuo Jacob Bittercourt (Doce de Côco, Sapeca) e demais génios da história da música brasileira que entre um choro-baião, um choro-samba, choro-canção, preenchem um belo disco.
Maravilhas que uma flauta, um cavaquinho, um bandolim, mandola, um violão de 6 cordas e uma guitarra de 7 cordas, um pandeiro, caixa, e reco-reco entre outros feitiços podem fazer.
E que sonzinho bom é ouvir ‘a aria das bachianas brasileiras n 5’ de Heitor Villa-Lobos ou ‘Amoroso’ que conta com a presença de mais um acordeão um carinete e glockenpiel. Venha mais uma água de côco se faz favor....
terça-feira, maio 24, 2005
[concerto] "Cantando Bajo la Lluvia" (crónia - "Os Musicais")
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"O que é que é isso oh meu?"
Seria com esta frase célebre do malogrado comentador desportivo Jorge Perestrelo, que definiria quase todo o meu tudor de desplante perante o Musical 'Cantando Bajo la Lluvia' (CBLL) que encheu durante três noites o Teatro Principal de Alicante.
Este género de espectáculo não me agrada muito (aliás, agrada-me pouco) mas a verdade é que foi-me completamente impossível resistir à tentação de assistir à versão dobrada (é evidente, estando em Espanha) do famoso 'Singing in the Rain' the Gene Kelly.
Desde o popular estilo spoken word que é a revista à portuguesa com pouca qualidade coreográfica e musical até aos fútis e intelegíveis shows de Casino onde abundam maminhas e plumas de registo instrumental, pouco se poderá dizer que vale a pena ver numa coisa destas. Outros espectros deste tipo de animação cultural incluem, a título de exemplo, as obras de Andrew Lloyd Webber como 'Cats' ou as cintilantes e aquarianas libertinisses do 'Jesus Crist Superstar'. Creio que será sempre melhor ver pela televisão do que pagar para ver ao vivo, embora existam excepções.
Os grandes musicais são os que, antes de tudo, têm especiarias raras, seja na composição musical, casos das obras geniais de George & Ira Gershwin com o inesquecível soul gospel de 'Porgy and Bess' ou os palcos em que o swing de Cotton club imperava e fazia brilhar Al Johnson, o branco que se fazia passar por negro, ou ainda da inovação das coreografias de Carmen Miranda ou Josephine Baker cuja desibinição causava espanto. Mas claro isto já era one Man-Woman show e não um musical.
Este CBLL foi um bocadinho fraquinho na cenografia (chuva feita de aspersores e holofotes que parecia uma camabada de mosquitos ) e, entre os demais dançarinos, realmente o duplo de Gene Kelly (Daniel Caballero) sapateava bem mas, a melhor forma de comparar é lembrar as dobragens que o La Féria fez na transformaçao do My Fair Lady em 'Minha Linda Senhora' que me soa horrível e me dá azia. Mas ainda subsiste um público muito vasto para estes musicais, de uma classe etária mais datada e ainda sonhadora das vivências douradas da Holywood dos anos 50.
Eu, tal como o Perestrelo, por 15 euros lá na coxia onde fiquei, com a minha barriguinha chegava e facturava melhor mas enfim, nao me parece que aquí no termomediteraneo vá chover tao cedo e possa dizer 'estou cantando debaixo de chuva'.
segunda-feira, maio 23, 2005
[Concerto] Perry Blake
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Um dandy irlandês desceu ao placo do Santiago Alquimista. Fato de veludo azul, colete incluso, trouxe consigo canções para acompanhar o traje. É que podem não ser blues o que este senhor toca, mas se Robert Jonhnson tivesse vendido a alma ao diabo num campo de cevada irlandês, decerto a história teria sido diferente.
Veio então Mr. Blake aqui ao burgo apresentar o seu novo "The Crying Room", embora tal como o próprio disse, dele apresentasse pouco pois o desconhecimento dos temas poderia não cair bem ao público que enchia a sala.
De facto, o repertório apresentado incidiu nos seus prévios trabalhos. O tom do concerto era dado por dois intrumentistas, apenas piano e contrabaixo, substítuido por uma ocasional guitarra acústica, que tingiam de cinzento os temas já soturnos do cantor. Lugar então para corações partidos, relações acabadas e canções de amor esperançosas de melhor destino, ou seja, lugar para Mr. Blake.
O que se passou então foi que se este tipo de canções pode fazer a carreira de muito boa gente, o certo é que muito poucos desses conseguem ter uma que valha a pena acompanhar. E Mr. Blake está rapidamente a caminhar por este último caminho...
De facto, são as canções menos novas aquelas que à distância de três noites ainda recordo. E nomes, só mesmo "The Hunchback of San Francisco", "California", "Pretty Love Songs" e "Ordinary Day", esta já em encore. Ora, estes três últimos temas fazem parte do grandioso "California", disco maior na carreira deste cantor, mas os restantes temas, aqueles com o selo de recente ou mesmo novo não auguram muito de bom por aqui.
Não chegaria ao ponto de dizer que por este andar ainda fará as primeiras partes de Júlio Iglesias, como João Bonifácio no último Y do Público, mas... onde é que eu pus mesmo o "Californa"? É que não há como lhe resistir...
P. S. 1 - A primeira parte esteve a cargo de Rui Gaio. E foi uma carga dos diabos suportar tal prestação.
P. S. 2 - Será pedir muito que no Santiago Alquimista não retirem os copos quando uma pessoa ainda não acabou de os beber?
quinta-feira, maio 19, 2005
[INFO] "Otites em Flor"
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Ainda na Primavera ficara combinado entre os escribas do Otites: Este blogue teria um "CD" para comemorar a chegada do tempo primaveril. Eis que chega então o "Otites em Flor", o nosso primeiro lançamento. O "Otites em Flor" é uma compilação de temas sugeridos pela nossa equipa, cujas escolhas recaíram em faixas que, de qualquer forma ou feitio, nos fazem lembrar a Primavera. Tal como o Otites, este disco é eclético e seria, se realmente o editássemos, completamente inviável do ponto de vista comercial o que é, certamente, um elogio para alguns de nós.
Duas das bandas que estão contempladas no disco já foram alvo de críticas e/ou artigos como Vive La Fête e Boards od Canada. Outras dispensam apresentações: The Cure, Zeca Afonso ou Orbital fazem parte dos nossos gostos.
As capas do CD (frente, trás e CD - baixa resolução) estão disponíveis para download em servidor nacional (SAPO) e terão, no total, cerca de 1,11Mb.
Em servidor internacional, devido ao espaço que ocupa, está um ficheiro .zip (2,2Mb) que inclui a frente, trás e CD em resolução mais alta (150 dpi). Aconselhamos a gravação "save target as..." ou "guardar destino como...".
As imagens estão aqui em miniatura:
Edit: O download destes ficheiros esteve, durante o dia de hoje a falhar. Penso que o erro já foi corrigido.
domingo, maio 15, 2005
[Info e disco] Fiona Apple "Extraordinary Machine"
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Uma pessoa muito especial na minha vida resolveu um pequeno mistério que me assolava a mente cada vez que punha a tocar um dos dois soberbos álbuns de Fiona Apple: “Tidal” e “When The Pawn...”.
O mistério era simplesmente, o que raio se tinha passado com ela?!? Desde o lançamento do seu último álbum que pouco soube sobre ela e a sua carreira. Ideias sobre um período de reclusão num qualquer mosteiro budista à lá Leonard Cohen, um estágio de meditação num ermitério em Palau, ou simplesmente o desejo de se abster da vida pública, passaram-me pela cabeça. No entanto, o prazer renovado a cada audição dos referidos discos faziam-me sempre desejar por um novo capítulo na obra desta artista.
Quando, então, me chegou às mãos o novo, pensava eu, “Extraordinary Machine”, rejubilei com o esperado prazer que em breve teria ao ouvi-lo. A primeira sensação que tive foi que este seria um álbum retirado das sessões do último “When The Pawn...”, pois era bastante próximo na sonoridade e na produção. Parecia que Fiona tinha ficado retida por volta de 2000 e nada mais se tinha passado na sua vida, nem na sua obra. A desilusão foi logo partilhada e o mistério logo resolvido.
Parece então que este “Extraordinary Machine”, foi finalizado em Maio de 2003, ou seja seguiu-se a “When The Pawn...” do final de 1999. No entanto, a editora Sony chegou à conclusão de que os custos de promoção e distribuição do disco, não seriam compensados pelas esperadas vendas. A falta de um claro single, o carácter menos óbvio das canções, a falta de uma batida hip hop ou guitarras nu-metal e quem sabe a ausência de medidas voluptuosas para pôr numa capa, talvez fossem as razões consideradas para a decisão de não editar tal disco e remetê-lo para uma qualquer caixa, num qualquer armazém.
Para mais pormenores sobre o atrás exposto podem consultar o que se vai passando em www.freefiona.com.
Aqui falaremos então do que está presente em “Extraordinary Machine”, lamentado o facto de este não estar disponível nas lojas, onde seria sem dúvida o seu lugar.
Segue na linha da obra da artista, não sendo de todo um álbum de rotura com o passado. Digo isto pois talvez possa ser apontado que à terceira obra, esta é mais do mesmo. E é, não hajam dúvidas. Talvez existam algumas orquestrações que não existiam outrora, mas o que aqui imperam são as composições doridas, os sentimentos de angústia, a perda e o sentimento implícito, levadas por uma das vozes mais expressivas que a actualidade tem para oferecer. Portanto é um disco para ouvir na sequência dos anteriores e compreender a obra de alguém que não merecia fazer um disco, que aqui digo ser muito bom, e vê-lo remetido para o esquecimento.
Esperemos (e sabemo-lo desde já) não ser esse o caso. É que as novas tecnologias, poderão trazer inúmeros malefícios... mas trazem também a possibilidade de ouvir neste um muito bom disco, com uma grande canção no seu início em "Not About Love", imaginar um single em "Better Version of Me" e um outro na excelência de "Used to Love Him".
Nem seria necessário Mark Romanek a realizar um video para eles (tal como fez como o excelso "Criminal"), ou os talentos do seu companheiro P. T. Anderson atrás da câmara, para que a sua editora reconsiderasse a sua decisão.
Bastaria algum bom senso...
Site oficial de Fiona Apple
sábado, maio 14, 2005
[INFO] A Menina da Rádio
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O Otites já tem espaço FM. Não sendo exemplo único, o Otites, por intermédio da CrazyMaryGold tem um(a) legítimo(a) representante da comunidade blogosférica no espaço radiofónico.
O programa "A Menina da Rádio" vai para o ar às 2ªs-Feiras, entre as 18 e as 19 horas, na Rádio Beira Interior. Qualquer contacto e/ou sugestão pode ser feira para meninadaradio@gmail.com.
quinta-feira, maio 05, 2005
[Concerto] Mísia no Maxim´s
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Já aqui tínhamos referido que Mísia, no último concerto que tivemos o prazer de assistir tinha encerrado o mesmo com um bolero. A expectativa perante essa nova interpretação, foi sendo aumentada por algumas entrevistas e especiais, nos quais descobrimos que o novo disco “Dramabox” incluiria tangos e boleros, para além de alguns fados. Sabendo que existe sempre um elemento de surpresa e renovação na sua obra e que as suas escolhas não nos deixam de surpreender, aguardava assim, conformado, o lançamento do disco referido.
Só que por um estranho acaso, muita sorte e a extrema gentileza de Inês Mota (os mais sinceros e aqui renovados agradecimentos) pude assistir ao showcase de apresentação deste novo trabalho que se avizinha e logo ouvir em primeira mão os novos temas.
Este pequeno concerto teve lugar no Maxim´s, casa que, ficámos ali a saber, tem um importante significado para a cantora. Nela há cinquenta anos, a sua mãe tinha lá actuado. Um local muito especial portanto.
E especial foi o espectáculo apresentado. Existe nele um conceito inerente. Um hotel "Dramabox" serve de lugar comum onde os vários músicos se encontram e partilham as suas vidas connosco em forma das canções que se lhes prestam a ser tocadas.
Estando nós então no salão de tal hotel, pudemos constatar a nova orientação e sentir que estávamos perto de Buenos Aires.
A excelência da interpretação dos tangos e boleros é por demais evidente, mesmo a mim, que apenas conheço um pouco (muito pouco) de Gardel e Piazzolla.
Os novos fados que em seguida apresentou são do melhor que já ouvi dela, portanto do melhor que já ouvi. Os meus colegas de redacção que se preparem pois quando o disco chegar por lá, vai rodar para além do limite do razoável...
Mísia esteve muito comunicativa, como seria de esperar num show com estas características e disfarçando na perfeição o nervosismo que disse que ia sentido, brindou-nos com mais alguns temas novos e ainda o seu fado fetiche "Lágrima".
Admito que cada vez que o oiço na voz dela é como se o fizesse pela primeira vez. O arrepio é inevitável.
Em suma, ao privilégio de ali estar, tive ainda a felicidade de assistir a um espectáculo, obviamente curto, obviamente incidindo em material novo, obviamente excelente.
Não posso deixar de referir e de me repetir, para quem acompanha os meus escritos, que este 2005 tem sido um ano excepcional a nível da música que vou ouvindo. Já falei dos discos que me enchem os dias, mas em termos de concertos, houve já o soberbo de Einsturzende Neubauten, agora Mísia e em breve teremos Perry Blake e Antony and the Johnsons e tudo isto e o ano sem ir a meio.
Venha o resto!
Sítio oficial de Mísia
quarta-feira, maio 04, 2005
[Disco] Nine Inch Nails "With Teeth"
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Premissa: Os Nine Inch Nails (NIN) são a minha banda favorita.
Corolário: O viés é, assim, indissociável ao texto abaixo apresentado.
Texto possível: Após 6 anos de espera chega um novo álbum dos NIN. “With Teeth” assim se chama e no OTITES já falámos da sua envolvente. Antes do texto propriamente dito aqui fica o seguinte aviso: na primeira parte falarei de cada tema do álbum (versão longa), na segunda da apreciação da obra na íntegra (versão curta). Daí que se não tiverem esperado por este álbum como quem espera uma lufada de fumo branco… talvez seja melhor passarem à segunda parte.
1 - Os primeiros sons revelam desde logo uma maior confiança nas capacidades vocais de Trent Reznor. “All The Love In The World” é um tema assombroso, perfeito para nos iniciarmos neste novo trabalho. Tema da melhor safra de NIN, desenvolve-se lentamente através de inúmeras camadas sonoras, do efeito hipnótico do piano, da violência duma espécie de refrão e prenuncia algo de muito bom.
O fim calmo, piano ao longe, é interrompido pela bateria brutal de “You know what you are”. Descarga visceral de decibéis raivosos, música ideal para catarse e libertações afins. Vizinhos irão sofrer decerto.
“The collector”. Que tema fantástico que deve ser ao vivo. Grandiloquente, magnânimo. Faz lembrar “The wretched” do anterior “The Fragile”. Ainda tenho dificuldade em aceitar que vou perder esta digressão… se algum responsável estiver a ler…
Segue-se o primeiro single “The hand that feeds”. Nunca os NIN foram tão abertamente políticos e a letra deste tema revela bem a posição sobre a política norte americana actual. É uma das músicas mais acessíveis que os NIN já fizeram, portanto uma escolha lógica para single de apresentação, mas inevitavelmente uma das que mais se desgastarão com as sucessivas audições.
“Love is not enough” é sem dúvida o tema mais fraco do álbum. Tentativa menos conseguida de expor as fragilidades da condição e isolamento humano, e menos conseguida é sem dúvida um eufemismo da minha parte.
Esta não é de todo a melhor parte do disco. As letras não são das mais inspiradas e “Everyday is exactly the same” peca só por isso. É o provável terceiro single e obviando a letra é bastante radio friendly.
O tema título mete o disco na linha, ou seja nos padrões de qualidade habituais para os NIN. Música bem distinta das conhecidas, mas que aqui se enquadra muito bem. Um novo fôlego para o que resta do álbum.
E o que resta é muito bom. Desde logo o segundo single “Only”, com vídeo a ser gravado por David Fincher, mas que já não realiza um vídeo clip desde “Judith” dos A Perfect Circle. O tema é um synth pop a dar para os Human League, mas um pouco mais pesado e com uma excelente linha de baixo. A escolha para single envolve algum risco, mas quem sabe com um vídeo à altura dos pergaminhos da banda e do realizador, talvez seja um êxito alternativo de Verão. Já houve coisas bem mais esquisitas.
Segue-se “Getting Smaller”, com a participação de Dave Grohl na bateria. É um tema pesado para apagar da memória o tema anterior e mostrar a raiva sempre latente aos NIN. Presença predominante das guitarras.
Mais calmo “Sunspots”. Alguma lascívia corre neste tema, mas nada que o tire da linha. Nada parecido com um “I want to fuck like an animal”. O álbum parece agora seguir altos e baixos, respirando quando precisa. E precisa.
É que a recta final é simplesmente magnífica. Três temas do melhor que já ouvi dos NIN. “The line begins to blur”, “Beside You in Time” e “Right were it belongs”. Aqui já não há palavras que os descrevam. Se o tentasse só leriam adjectivos colados uns aos outros sem nexo aparente. Lindo, soberbo, espantoso e outros que tais.
E o último tema deixa um gosto a... sente-se que... é mesmo um tema de esperança... os tempos correm mesmo diferentes para os lados dos NIN.
NIN ao seu melhor nível e que mostra bem que depois de tanto tempo vale a pena esperar.
2. Este “With Teeth” não é o melhor da carreira dos NIN. Quando existem álbuns como “The Fragile” ou “The Downward Spiral” as comparações são difíceis, mas quem espera encontrar a excelência das obras anteriores, não a encontrará. Aliás existem aqui momentos que pecam pela qualidade, tais como “Love is Not Enough”.
No entanto, este disco é, ainda assim, fenomenal! Existem aqui temas que elevam a qualidade musical a píncaros quase inalcançáveis para o comum dos mortais, casos de “Beside You in Time” e “All The Love In The World”. E a coerência dos temas, a passagem de um para os outros...
Embora um álbum de canções (por oposição a um conceptual) tudo parece ligar. Existe um estado de espírito que corre pelo disco, agora menos negro que em obras anteriores, mas ainda muito longe de um luminoso. Mais guitarras, maior confiança a nível vocal, maior acessibilidade nos temas apresentados. Não tenho dúvidas que desagradará a alguns fãs, mas não se pode agradar a todos. E a mim, modestamente, um grande fã de NIN, agrada-me muito…
Para resumir, sem dúvida um dos álbuns a ter em conta na contagem do melhor do ano. Nessa altura falaremos.
Sítio oficial dos NIN.
Podem ouvir o álbum na íntegra, sem pagar, subscrever, ou oferecer a alma ao demo aqui.
terça-feira, maio 03, 2005
[concerto] Vive La Fête em Lisboa e Sesimbra
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É incrível como é difícil escrever um texto sobre os concertos de Vive La Fête (de quem já falámos aqui e aqui) que assisti em Lisboa (Santiago Alquimista) e Sesimbra (Grémio ao vivo).
Esperar horas para os ver subir ao palco torna-se uma coisa sem importância quando se esteve com eles em mini-sessão de autógrafos e fotografias numa esplanada de Lisboa, e quando depois se recebe o que têm para oferecer.
A ansiedade e incerteza quanto ao espectáculo rapidamente têm a tensão aliviada quando se ouve no walkie-talkie de um segurança “*crshhh* – uma garrafa de vodka e de whiskey para o backstage – *crshh*”. Não havia dúvida: a festa estava aí.
O novo baterista Jan D'Hooghe (que, embora nervoso, foi posto à vontade) subiu acompanhado do teclista Marc Requilé que se transforma de cabeludo electro-punk em careca rapado. Danny Mommens (guitarra e voz) traz a energia e loucura, equilibrada com a sobriedade do baixista Ben Brunin. Tudo é bom e divertido... até que... a vocalista Els Pynoo sobe ao palco e tudo se transforma.
É indescritível. É completamente impossível descrever a frieza quase rotineira com que ela aparece e simplesmente arrasa tudo e todos numa demonstração arrepiante de poder, sensualidade e, atrevo-me, superioridade. Todos hipnotizados e sob o efeito deste inultrapassável feitiço que insiste em lançar-nos. Incluindo a banda. Está tudo incrédulo, a seguir atentamente o percurso dos cabelos dourados que embatem nela própria enquanto se vira de um lado para o outro. Mais um berro mimado e sexy, e mais um movimento de cintura impossível enquanto os pés descalços se mantêm “em pontas”.
Esta é a força dos Vive La Fête em palco, criando-se uma atmosfera de transe em que todos são envolvidos num esquema premeditadamente orquestrado para os deixar em êxtase e loucura, enquanto se pula e dança ao som do kitch pop mais atrevido e desregrado.
Uma sorte termos podido ver a festa total em Lisboa, com um público à altura que nem se importou da fraca qualidade do som; tal como a loucura em Sesimbra, com um som muito melhor.
Foi usada a playlist mais óbvia e próxima do que é costume, com passagens por clássicos como “Nuit Blanche” (público a cantar em uníssono), a altamente sexual “Mon Dieu”, a histérica e poderosa “Noir Désir” (que continua a ser bem melhor na versão de estúdio), a recente e arrasadora “Schwarzkopf”, tempo ainda para “Maquillage” e “Tokyo”, ente outras, passando pelas excelentes novas músicas “Hot Shot” e “La Vérité” (um verdadeiro espectáculo!). A acabar a já habitual cover “Fade to Gray”.
Uma grandiosa festa (em que todos participam - e já é um must subirem ao palco pelo menos duas pessoas para tocar guitarra e berrar ao microfone), numa incrível demonstração de sensualidade.
Sou um grande fã e esta é, para mim, a grande banda do momento. A reforçar isso estará o excelente álbum (Grand Prix) que sairá a 9 de Maio (que já se pode ir ouvindo alegures na internet) do qual falaremos oportunamente.
» Site oficial
segunda-feira, maio 02, 2005
[concerto] Luís Delgado & ‘ Tânger ‘
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O concerto decorreu no dia 26 de Abril no Teatro Principal de Alicante/Alacant sob o título de ‘Tanger’.
Desfilaram maioritariamente os temas do novo CD, onde se evidencia o novo rumo do autor, na preferência pelo registo acústico, mais orgânico e ritual da qual não será alheio o facto de ter sido gravado ao vivo na ‘cidade branca’ africana de Tânger.
‘El diwan de las poetisas’ foi o instrumental de abertura que antecipava o que seria uma noite em espiral numa sala de cor aureo-celeste e de formas elegantemente boleadas.
O tema segundo foi, para mim, um encontro com a História, pois Delgado soube a meias com o poeta Ibn as Santarini, nado no século XI em Santarém (à época pertencente ao Tarifado de Badajoz) traduzir com perfeição, no seu alaúde uma dupla cantiga de amor e um texto dedicado a ‘Sulayr’, a serra Nevada.
Da mesma contêmporaniedade temporal e do mesmo eixo meridional, da cidade de Valencia del Cid, o também poeta Ibn al Zaqqaq, um iluminado que em domínio Almorávida nos legou ‘El Saludo’, ‘El cinturón y el brazeleta‘, ‘Amanecer en la mar’ e ‘La aurora nocturna’ foram alvo das interpretaçoes sagazes dos seguintes músicos:
Luis Delgado (alaúde califal, bendhir, guimbri e santur); O Trio de ‘Tangerinos‘; o ancião Larbi Akim no alaúde; Jamal Eddine Ben Allal no violino; Mohamed Serghini El Arabi na viola e com a conceituada e premiada voz; nos sopros, Jaime Muñoz; nas percussoes David Mayoral; e no acordeão Cuco Pérez.
Numa descrição generalista do espectáculo pela veia poética, a dissecação emocional do tema ‘La aura nocturna‘. M.S. El Arabi soube bem cantar a brisa que percorre um céu estrelado sustento por avenidas de colunares palmerais, nas serpenteadas voltas dos aromas e das vaidades dos roseirais, nos rendilhados de pedra e água, na antevisão da beleza que se perfila ao horizonte, no dorso de uma donzela morena autora prateada, mas que se afinura em pó de ouro quando a luz da aurora desperta e faz florescer as pétalas das Amendoeiras. A esta sensibilidade junta-se a capacidade de Delgado e seus companheiros povoarem com o éter dos sons, as paisagens e as arquitecturas da natureza e das cidades na forma de belos instrumentais. ‘Tirwal’ foi um exemplo.
A finalizar, a mais explosiva das performances, a voz vibrante de Mohamed ‘encheu’ e os ritmos percussivos afirmaram-se no mais dançável momento musical.
O apontamento negativo terá sido o tom dos graves, que estava um pouco esquecido assim como maior visibilidade que se esperaria do acordeão, flautas e percussões, que não deslumbraram tanto como podiam.
A música tem a estonteante capacidade para forjar imagens, no dia 22 de Março em Barcelona assisti no concerto dos Dead Can Dance, ao ajustamento do centro da nossa galáxia nas cordas vocais de Lisa Gerrard. Hoje pude comprovar que o Estreito de Gilbraltar, não passa disso mesmo, um estreito por que se ultrapassa como quem come uma laranja, distraído em ideias iluminadas.
Info [Zane Lowe]
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A BBC é uma instituição para a qual se dispensam apresentações. Mas para além do peso histórico que acarreta, possui uma mutabilidade e adaptabilidade de relevo. Assim, as novas tecnologias fazem parte integrante da sua estrutura, tal como podemos confirmar pelo facto de se apresentar na internet com todos os seus programas de rádio disponíveis para audição. E não são poucos, como podem imaginar...
Posto isto, serve este post para salientar o excelente programa de Zane Lowe. Faz parte da minha banda sonora de gabinete e contribui determinantemente para contrariar o efeito nefasto que o trabalho faz a uma pessoa...
Vale pena dar um salto
Sítio oficial da BBC
P.S. E já que se fala de rádio e da BBC, não há como fugir à sua maior referência: Jonh Peel
domingo, maio 01, 2005
[DISCO] M.I.A. "Arular"
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Que belo ano este 2005 está a revelar-se em termos musicais. Escrevendo isto nos finais de Abril, houve já a oportunidade de ouvir Antony de que aqui falámos, Tori Amos e o novo "The Beekeeper" que esperamos vir a falar e o novo With Teeth dos Nine Inch Nails que temos obrigatoriamente de falar e recomendar (e recomendamos também a audição integral do álbum aqui. Gratuito, sem subscrever nada!)
Mas o que aqui nos traz é este "Arular" de M.I.A. que confere a este ano ainda mais razões para nos regozijarmos com a música que vai chegando. Este é o som mais vibrante que os últimos tempos me trouxeram. Mesmo ao escrever isto, não dá para estar parado! Esta miuda está a mexer com os meus dias!
Falemos separadamente da envolvente e depois da música propriamente dita.
Envolvente
Esta jovem de nome Mathangi Arulpragasam (a sigla com que se apresenta vem de Missing In Action) traz consigo uma história onde caberiam algumas vidas separadas. Filha de um rebelde Tamil, a sua vida ficou logo aí condicionada a várias deslocações entre o Reino Unido onde nasceu e agora vive, o Sri Lanka donde os seus pais são originários e outro locais que lhe serviram de refúgio.
A situação tensa no Sri Lanka leva a sua família a vir para o Reino Unido de novo, embora sem o seu pai do qual nada sabe desde tenra idade. (A partir de agora, ao pensar nos meus problemas, vou tentar relativizá-los...).
Após os problemas de se integrar numa sociedade tão distante como a inglesa é da do Sri Lanka, ela consegui tirar um curso de cinema na prestigiada Central Saint Martin´s School of Art.
Posteriores conhecimentos com bandas como as Elastica e mais importante com Peaches, levaram-na a tentar mexer numas caixas de ritmos e cantar por cima. O que daí saiu?
"Arular", pois claro!
Música
Aqui há algo de novo. Acreditem. Tudo o que se passa em todo o lado condensado. Hip hop bem manhoso, dancehall obscurecido pela erva a fumegar, batidas viscosas e baixos subterrâneos como os que se ouvem no grime londrino, electro pastilhado, sexo dum kuduro lascivo, a inocência daquelas modinhas infantis com petizes a saltar à corda tótós e soquetes pelos tornozelos, caramba há de tudo desde que seja para por uma pessoa a mexer! Juro!
Nesta altura devia estar a tentar fazer referências às letras, que não tenho dúvidas devem fazer alusões às situações dramáticas passadas por ela e pela sua família, à situação no terceiro mundo, aos problemas pessoais da jovem M.I.A..
Mas... não sei. É que apesar de ter ouvido este disco uma quantidade não saudável de vezes nestes últimos dias, não consigo prestar atenção ao que se canta. Além de uma linguagem muito complicada de perceber, entre o calão e a verborreia inintelengível, a verdade é que o ritmo domina. Talvez devesse prestar mais atenção, (sim, consegue-se deslindar o sentido das músicas...) mas não dá para estar parado! Não acreditam? Experimentem e deixem os vossos comentários aqui em baixo.
Música para autocarro morto ás 8 e meia, no caminho para o trabalho!
Música para autocarro suado ás 6 e meia, no caminho para casa!
Música para estes tempos!!! Galang Galang!
Sítio oficial de M.I.A.